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(In)Coerência

07/06/2010 -

“Faça o que eu digo não faça o que eu faço” Ditado Popular De acordo com o dicionário Houaiss a palavra coerência quer dizer: ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas idéias; relação harmônica, conexão, congruência, harmonia de uma coisa com o fim a que se destina; uniformidade no proceder. Mais claro impossível, concordam?

A minha intenção em definir essa palavra é criar subsídios para falar do oposto dela: da incoerência! Afinal, esse é um assunto sobre o qual sempre tive vontade de escrever.

No início de minha carreira observava com freqüência o quanto ela era comum, mas passei um bom tempo acreditando que aquilo que via (e muitas vezes sentia na pele) eram fatos isolados, eu devia estar apenas “dando azar”, era certo que logo encontraria um mundo corporativo coerente, mas acho que apenas me iludi.

A cada dia que passa se tornam cada vez mais comuns os exemplos de incoerência que me saltam aos olhos, mas dentre todos eles o que mais me chama atenção é o que ocorre entre o discurso e a prática.

Falar é fácil, fazer é que são outros quinhentos, já dizia o ditado popular. Poderia citar aqui diversos exemplos dessa falta de coerência, como o de empresas que tem em sua missão “a valorização do ser humano”, mas que não investem no desenvolvimento de seus funcionários e só faltam lhes “tirar o couro”; de consultorias de marketing que sequer possuem uma marca; de professores que falam sobre liderança e são verdadeiros tiranos e por aí vai.

São muitos aqueles que pregam uma coisa e agem de maneira diferente, se “entregando” através dos seus atos. Ano passado assisti a uma palestra do Paulo Gaudêncio onde ele falou sobre o “sentir, pensar, agir e falar”. Achei fantástica a explanação!

Segundo ele há coerência quando essas ações seguem a mesma linha: o que sinto deve estar de acordo com o que eu penso, que reflete em como eu ajo e no que eu falo.

Mas não é sempre assim que as coisas acontecem. O sentir e o agir estão ligados ao nosso lado emocional, e o que eu penso e como ajo ao racional, pois sofrem influências externas. Só para exemplificar: às vezes sentimos raiva de alguém, mas pensamos que não devemos sentir essa raiva, assim dizemos “tudo bem, deixa pra lá”, mas agimos de forma indelicada logo em seguida.

Faz parte do jogo? Acredito que seria mais coerente já que “deixei pra lá” agir de acordo com o que acabei de expressar verbalmente. Afinal, não é o que dizemos que nos tornam pessoas melhores ou piores diante de nós e dos outros, e sim como agimos, como nos comportamos.

Em seu livro “O monge e o executivo” James Hunter é brilhante quando afirma que “comportamento é escolha”. Não podemos escolher o que sentimos, mas podemos escolher como vamos deixar aflorar nossos sentimentos. Não estou querendo dizer que só existe incoerência no mundo corporativo, longe disso.

Existem muitas empresas, pessoas, profissionais extremamente coerentes e que são, sem sombra de dúvida, os mais admirados por todos. Mas existem muitos que vivem do discurso e se sustentam em bases móveis, as do cargo que ocupam, e que continuarão “fazendo sucesso” apenas enquanto ali permanecerem.

É importante lembrar que a vida é uma roda gigante e que num momento de baixa levantar-se-ão apenas aqueles que estiverem sobre bases sólidas: a da coerência, da integridade e do caráter. E como dizia Heráclito: “O caráter de um homem é o seu destino”.


Autora: Carolina Manciola


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