Um mito bastante difundido de forma recorrente por escolas, famílias, veículos de mídia e departamentos de recursos humanos das empresas é o de que o mercado de trabalho é apenas um local de concorrência entre profissionais, que nele se engalfinham por melhores posições.
Nessa luta feroz, de concorrência entre indivíduos, quem é profissional não tem qualquer alternativa além de concorrer e disputar com outros profissionais. Em uma espécie de cada um para si e Deus para todos, o profissional é obrigado a agir sozinho e a enxergar outros profissionais como inimigos perigosos, adversários que precisam ser superados a qualquer custo.
Essa concepção de mercado de trabalho evidentemente atende ao interesse de alguns que têm a ganhar com esse campo de batalha, em que impera o individualismo profissional na disputa por postos de trabalho. O único que não ganha com isso, com toda certeza, é o próprio profissional.
É possível atuar no mercado de trabalho de várias maneiras e as mais comuns são como empregado de uma empresa ou como profissional autônomo. Essas duas modalidades de inserção no mercado se caracterizam, principalmente, pela atuação individual do profissional, ainda que sempre em equipe com outros profissionais depois de entrar em uma empresa.
Mas há também formas importantes de se entrar e atuar no mercado de trabalho através de parcerias com outros profissionais. Sobretudo através de associação entre profissionais ou de empreendedorismo com dois ou mais sócios. Ou ainda: empreendedorismo por meio de parcerias entre várias empresas, que se complementam e que atuam em conjunto no mercado. Hoje a lei brasileira permite a abertura de empresa de um único dono, sem sócio.
Várias empresas desse tipo, por exemplo, podem desenvolver uma ação conjunta no mercado, produzindo ou vendendo serviços ou mercadorias.
As vantagens de se trabalhar de forma associada – seja como profissional autônomo ou como empresário – são muitas. Primeiro porque não se está sozinho: seu esforço é somado ao esforço de outros parceiros, aumentando assim, e muito, as chances de que as coisas deem certo.
A troca de ideias, a interação entre parceiros e as ações conjuntas no sentido do sucesso dos trabalhos são algumas das outras vantagens. A associação entre amigos e colegas profissionais pode levar à independência mais rapidamente do que outros caminhos profissionais. Como associados ou como sócios, ninguém é patrão de ninguém. O que é necessário, porém, é a maturidade e honestidade na relação entre os parceiros, pois uma condição essencial desse modelo é a confiança entre as pessoas que trabalham de forma associada ou como sócias.
Não é verdade, portanto, que no mercado de trabalho todos concorrem com todos. Não necessariamente. Aqueles que tiverem a habilidade de se associar, de somar inteligências e habilidades profissionais, poderão atingir um grande sucesso e realização pessoal de modo mais rápido e eficiente.
O estímulo à associação, infelizmente, é ainda muito pouco por parte das escolas e da sociedade em geral. Ainda se bate muito na ideia antiga e falsa de que só é possível agir individualmente no mercado de trabalho. A atuação em grupo abre horizontes para a autonomia profissional, permitindo que os parceiros decidam sobre o que é melhor para eles, sem pressões nem imposições externas.
Hoje, no Brasil, de acordo como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os empregados com carteira de trabalho assinada representam menos da metade de todos aqueles que trabalham no setor privado. Ou seja, a maioria das pessoas que trabalha no Brasil o faz como profissional autônomo ou como empresário de qualquer porte. Resta agora aos profissionais brasileiros desenvolverem melhor a capacidade de se associar.
Luiz Guilherme Brom é doutor em Ciências Sociais e diretor-superintendente da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap). E-mail: luizgbrom@fecap.br
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