Atrair talentos
26/04/2011 - HÁ TEMPOS que faço uma provocação irônica em conversas e palestras, dizendo que "não tenho tido sucesso na contratação... O problema é que, quando se contrata um profissional, a pessoa vem junto. E queríamos apenas o profissional...".
Estou convencido de que é a mistura das características individuais e profissionais que torna o trabalho do empreendedor ou do executivo muito mais interessante. O antigo chavão segundo o qual que o bom profissional pendura suas emoções durante o expediente claramente não existe -acho até que nunca existiu.
Lidar com as frustrações, os sonhos, as ambições, os valores etc. das equipes é parte do processo de gestão de qualquer empresa. Conhecer as motivações de cada um e buscar o melhor lugar para aquele perfil se adaptar é responsabilidade conjunta do gestor e do funcionário. Sempre desestimulei classificações que rotulem as pessoas com uma lista de qualidades e defeitos. Acredito que é melhor falar em perfil, que é uma forma muito mais construtiva de buscar ajustar o talento de cada um à oportunidade oferecida pelas diversas posições, num determinado momento de mercado ou da empresa.
Quando se encaixa o perfil das pessoas aos quesitos de um determinado trabalho, quando há identidade de valores e as motivações estão alinhadas, a autoestima de cada um fica elevada e a performance da equipe entra numa dinâmica positiva, em que todos saem ganhando.
Essa é a arte da boa gestão nos dias de hoje: respeitar a individualidade e dar espaço para o desenvolvimento de cada um. Isso reforça a responsabilidade que as partes têm. Não se trata de delegar para que uma área especializada cuide do assunto, mas sim de o gestor chamar para si a responsabilidade de fazer o seu papel de alocar e dar espaço para o time, bem como de o funcionário cumprir o seu papel e buscar se conhecer e se desenvolver dentro da organização.
O sucesso de qualquer empresa depende de compreender e motivar os seus funcionários. Não se trata de formá-los (colocar na fôrma...), mas sim de dar a eles a condição de desenvolver o seu potencial.
A discussão desse tema se tornou ainda mais importante por conta do crescimento acelerado que já temos há algum tempo no Brasil. Em razão disso, a disputa por talentos tem se acirrado -e muito. Reportagens recentes, analisando variados segmentos de mercado, mostram que a maioria das empresas já está tendo que dosar o ritmo de crescimento, dada a dificuldade na hora de contratar e desenvolver suas equipes.
A escassez de gente qualificada e o alto nível de informação disseminado pelo mercado acirram ainda mais a disputa pelos profissionais, sendo, portanto, fundamental saber o que os atrai, onde são mais bem aproveitados e como motivá-los.
Por isso, as empresas precisam entender cada vez melhor o que motiva os potenciais candidatos e como criar um ambiente atraente para as pessoas. A missão não é fácil, e, para ter sucesso, as organizações precisam oferecer algo a mais no trabalho: Significado! O significado é a nova moeda. Com esse título (em inglês, "Meaning is the New Money"), a autora Tamara Erickson, professora de Harvard, relata sua pesquisa envolvendo várias empresas na busca de entender as novas demandas e os desejos dos trabalhadores nesse mundo com informação cada vez mais disseminada. A pesquisa, entre outros pontos, concluiu que o nível de engajamento, o compartilhamento de informações e o padrão de performance das equipes eram tanto maiores quanto mais alinhamento houvesse com os valores da empresa.
Isso porque as pessoas cada vez mais buscam um significado no seu trabalho e valorizam quando entendem o propósito da empresa e das suas atitudes. Esse conceito tem implicações muito importantes para as políticas de recrutamento e seleção e, sobretudo, na questão da gestão.
Não se trata apenas de oferecer uma remuneração atrativa, mas também de propiciar condições que permitam o desenvolvimento profissional e também o pessoal. A boa compreensão dessa dinâmica definirá quem são os vencedores na construção das empresas... e do Brasil.
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FÁBIO COLLETTI BARBOSA, 56, administrador de empresas, é presidente do conselho de administração do Banco Santander e presidente do conselho da Febraban. Escreve mensalmente, aos domingos, neste espaço.