Alessandra França, uma bela jovem de 25 anos, montou um banco dos pobres depois de ler a biografia de Muhammad Yunus, Nobel da Paz de 2006.
Paranaense Alessandra França nunca se encaixou no perfil da adolescente convencional. Aos 15 anos, a filha de um caminhoneiro e de uma costureira foi estudar informática na Organização Não Governamental (ONG) Projeto Pérola. A ONG dedica-se à capacitação de jovens carentes em Sorocaba, interior de São Paulo, onde Alessandra mora. Sua progressão foi rápida.
Em quatro anos, ela avançou de aluna para colaboradora e, posteriormente, tornou-se coordenadora dos trabalhos. Alessandra obteve uma bolsa em um colégio particular, formou-se em marketing e concluiu um MBA em gestão de pessoas. Em princípio, tinha tudo para buscar uma carreira executiva.
No entanto, aos 16 anos ela leu O banqueiro dos pobres, um livro que mudaria sua vida. Nele, o bengali Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz de 2006, conta como construiu uma rede de crédito eficiente e barata para a população carente de Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo. “Foi uma revelação”, diz. Hoje, aos 25 anos, ela coordena o Banco Pérola, que concede empréstimos para jovens de Sorocaba.
À frente da ONG, Alessandra havia percebido que os jovens que estudavam tinham muita dificuldade para fazer seus projetos avançar. Eles não tinham crédito, mesmo que os valores requeridos fossem pequenos.
Daí nasceu o Banco Pérola – na verdade, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), entidade que presta contas aos ministérios do Trabalho e da Justiça. Seus agentes procuram lideranças comunitárias e igrejas para divulgar os empréstimos e conquistar clientes.
O crédito só é concedido para jovens que tenham projetos de empreendimentos pessoais em qualquer área de interesse. “Não analisamos apenas o projeto, também olhamos para o caráter do cliente, como ele é conhecido entre seus vizinhos e amigos”, diz Alessandra. “O mercado financeiro pode ser humanizado.” O modelo é o mesmo do Grameen Bank, de Yunus. Os clientes têm de vir em grupos de três a cinco pessoas. Todas são responsáveis. “Se um deles não conseguir pagar, o grupo se compromete a honrar o compromisso.”
Vaidosa, a bela banqueira de Sorocaba adora vestidos floridos e esmaltes de cores fortes, modelito usado no dia a dia e nos contatos com a comunidade. Nas reuniões com financiadores, como a Caixa Econômica Federal, usa tailleur e óculos.
“É para parecer mais velha.” Esse hábito vem desde o início do projeto. O capital inicial veio de uma organização internacional de estímulo a projetos sociais chamada Artemísia, fundada em 2002 e que começou suas atividades no Brasil em 2004.
Há dois anos, Alessandra inscreveu seu projeto em um concurso da Artemísia e teve 15 minutos para defendê-lo diante de uma banca examinadora. Foi uma tarefa difícil. Um dos examinadores perguntou, sem rodeios: “Você acha que os jovens são confiáveis e vão pagar os empréstimos?” Mesmo nervosa, Alessandra não hesitou.
“Eu sou jovem”, respondeu. “Se não acreditasse, não estaria aqui.” Projeto aprovado, a Artemísia forneceu R$ 40 mil para estruturar as atividades do banco.O Pérola possui um capital de R$ 240 mil. A maior parte vem de doações e R$ 100 mil são recursos oferecidos pela Caixa. Os juros cobrados são de 4% ao mês e os empréstimos ficam, em média, em R$ 1.500.
Os números ainda são modestos. Em dois anos, Alessandra concedeu empréstimos para 45 clientes. A meta é emprestar para mais 300 pessoas este ano. Ela negocia a abertura de uma filial na cidade vizinha de Porto Feliz para ganhar volume. O ponto de equilíbrio do banco é de R$ 1 milhão emprestado, quando não dependeria mais de doações e parcerias, calcula.
Como toda banqueira que se preze, Alessandra capta dinheiro mais barato do que empresta. A inadimplência dos clientes com até 35 anos é zero. Mesmo assim, os balanços mostram um calote de 2%, abaixo da média do sistema bancário.
“Foi uma experiência que fizemos ao emprestar para clientes mais velhos”, diz. Os jovens não oferecem esse problema. “Eles são mais dinâmicos e são mais flexíveis, além de ouvir o que temos a dizer.”
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