Ao chegarmos ao mundo, somos rodeados de esferas que existem para aguçar nossos sentidos, fazendo com que nossa mente seja enganada constantemente por conta de nossas limitações mentais e também pela extrema dificuldade que nós, seres humanos, temos de nos encontrar. Assim, somos levados inconscientemente a agirmos e a realizarmos coisas que não necessariamente escolhermos executar, isto é, não foi uma ação ou um efeito decidido por nós (por livre iniciativa) porque alguém já decidiu em nosso lugar. Usando palavras diferentes é o seguinte: as pessoas não são curiosas e se conformam com todos os alimentos que são colocados em suas mesas, sem ao menos fazerem a degustação correta para identificar o que é gostoso e o que não é, ou o que faz bem e o que causa má digestão, ou ainda, o que é saudável e o que intoxica. A concatenação parece moderna e atual, mas há muito tempo atrás, um cidadão da Grécia já sabia disso e dava bases sólidas para que a população pudesse acordar desse sono profundo, objetivando fazê-la escapar desse crônico repouso para poder contemplar novamente a verdadeira realidade.
O ateniense Platão menciona em sua apaixonante Teoria das Ideias que pouquíssimas pessoas são livres, pois muitas são recorrentemente enganadas por um império invisível, ou seja, o pensador afirma que existe um reino intangível que atua sorrateiramente e propositalmente para que essas pessoas nunca encontrem a verdadeira realidade, usando inúmeras formas e modelos para convencê-las a permanecerem estáticas perpetuamente. De uma maneira mais banal, ele defende que o mundo óbvio e corriqueiro que vemos não é o verdadeiro, porquanto esses seres das sombras colocaram uma venda negra em nossos olhos, fazendo com que nossa percepção ficasse totalmente comprometida por conta da nossa natureza ingênua e inocente, que nos transformou em criaturas incapazes de interpretar os tabuleiros genuinamente existentes.
Então, para o notável filósofo e matemático grego, muitos seres humanos vivem e transitam em um mundo de mentira, onde essas inverdades são plantadas recorrentemente por esse conjunto social de ilusionistas, que existe apenas para sustentar uma fábula onde os principais personagens são proibidos de pensar e de tomar suas próprias decisões. Destarte, ele defende que a única verdade é o pensamento singular que cada pessoa possui e como ela o utiliza para perceber o universo e suas dimensões mais complexas (questionamentos). Por exemplo: quando um homem visualiza uma estátua, este rapidamente percebe que tal objeto é palpável e real, contudo, apenas verificar a existência da mesma é muito pouco para interpretarmos o fato, haja vista que é necessário indagarmos o que tal escultura representa para o cosmos planetário. Assim, precisamos indagar: qual é o núcleo da escultura? Porque ela foi criada? Ela realmente existe? Quem me garante isso? Ela se comunica? Ela pode me ouvir? Eu posso destruí-la? Ela é única no universo? Qual o papel dela na sociedade? O que as outras pessoas pensam a respeito? Porque elas emitiram tal opinião? Elas odeiam ou amam tal figura?
Perceba que a reflexão acima nos entrega uma fabulosa percepção: o que é realmente verdadeiro e fidedigno são os pensamentos em torno da escultura e não o objeto propriamente dito. Desta forma, o que os nossos olhos enxergam será sempre uma mentira se não usarmos nossa mente para aguçar os pensamentos em torno de um determinado fenômeno. Em outros termos, para Platão o mundo espiritual (que não podemos ver) é infinitamente superior ao mundo material (que vemos).
Portanto, para ele, a escravidão está no tradicionalismo e no seguimento de coisas criadas e repetidas constantemente pela sociedade, que vive presa em suas próprias limitações. Diferente da liberdade, que está ligada a abertura mental do ser que escolhe mergulhar profundamente em sua consciência, procurando encontrar respostas para as múltiplas dimensões existentes, desde as mais complexas até as mais modestas.
O alinhamento entre as ideias de Platão e o empreendedorismo
Muitas pessoas passam a vida inteira procurando respostas em livros, revistas, cursos, histórias, palestras, conferências, workshops, universidades, enfim, em esferas que outros seres humanos já criaram, quando na verdade a tão procurada solução já foi achada e está dentro do coração dessas criaturas, ou seja, o cerne do sucesso de qualquer empreendedor está em descobrir seus talentos adormecidos e descortina-los.
Ora, para ter uma aura empreendedora é necessário estabelecer um elo, um acorde perfeito entre a capacidade de gerar ideias impossíveis, a habilidade para coloca-las em pratica e a destreza de otimizá-las com o tempo. Essas ações entregarão múltiplas competências e uma infinidade enorme de qualidades ímpares que farão com que a visão de tal pessoa seja completamente estarrecedora para as outras, efetuando uma maravilhosa estirpe entre as sacadas do empreendedor e seus admiradores.
Mas, para que tudo isso possa ocorrer, o futuro empreendedor precisa fazer uma pergunta a si próprio: o que eu faço com mais alegria e contentamento nesta vida? Provavelmente, muitas pessoas ficarão escandalizadas com esse compêndio por pensarem que é utópico ganhar dinheiro fazendo aquilo nos apraz, porém o que elas desconhecem é que o complicado mesmo é crescer financeiramente realizando uma atividade que faz mal a nossa alma e machuca o nosso coração. É como costumo dizer aos meus melhores amigos: a diferença de um trabalho perfeito para um trabalho normal está no modo como ele foi tratado, de sorte que o primeiro foi feito com carinho, amor e total submissão (como se fosse o último), já o segundo foi feito com frieza, banalidade e total displicência (como se fosse “mais um”).
Lamentavelmente, como podemos facilmente notar, os principais obstáculos humanos continuam sendo, como em todas as eras passadas, o medo, a culpa, a timidez e a insegurança, que inibem a mentalidade reluzente e fazem com que o potencial existente seja momentaneamente bloqueado. Por conta desses fatores, raríssimas são as pessoas que aceitam correr riscos, pois a ousadia traz consigo coisas desagradáveis e nem sempre vantajosas (a curto prazo), porém ela é a única maneira de encontrarmos uma razão de viver e uma consequente alegria em nossos empreendimentos futuros.
Exatamente pelos motivos negativos descritos acima, existe uma linha muito tênue entre a loucura e a genialidade no mundo corporativo, pois é simplesmente impossível criar ideias extraordinárias sendo uma pessoa propositalmente comum. Em outras palavras, é necessário ter “um parafuso a menos” para a sociedade, de sorte que apenas um número reduzido de pessoas perceba o brilhantismo da efígie estrela que para muitos se encontra obscurecida e até mesmo, desfigurada, mesmo sendo capaz de cegar a Via Láctea inteira e de abraçar o universo com sua cintilante luz. Logo, podemos perfazer que o maior inimigo de um empreendedor não é a falta de dinheiro, ou a dificuldade de se planejar e executar um projeto, ou a pequenez de expertise e know-how que ele possui, ou a escassez de soluções inteligentes em sua mente, ou a pouca frequência de pensamentos inspirados a sua volta, ou a limitação da educação que ele recebeu, ou a falta de oportunidades para externar seus conceitos, enfim nada concernente a essas variáveis, mas sim a retaliação das pessoas frente a um novo poder que passará a existir no meio delas.
A falta de discernimento de algumas pessoas que querem empreender
Algumas pessoas querem ter resultados excepcionais realizando as mesmas coisas a vida inteira, ou seja, elas querem que o maná caia do céu sem que elas deixem de andar em círculos. Mas o pior de tudo não é isso: esses indivíduos não aceitam crítica, não aceitam serem ajudados: são de longe, os mais ignorantes, fracos e limitados, mas ostentam um âmago infinitamente orgulhoso, que os fazem achar que viver em um casulo (sujeição) é mais agradável do que bater asas e voar (autonomia).
Outra coisa: quando encontram pessoas mais talentosas e competentes pelo caminho, ao invés de “grudarem” nelas para buscar aprender e reter alguns ensinamentos, elas simplesmente surtam e procuram imediatamente uma maneira de conspirar e atacar tais criaturas (como uma espécie de ringue invisível), porque elas não sabem reconhecer seres mais evoluídos, nem respeitá-los pela envergadura que criaram e tampouco admirá-los, tendo em vista que somente olham para o próprio umbigo, como crianças bobas e mimadas que pranteiam ridiculamente ao verem que um “amiguinho” que mora ao lado ganhou uma bicicleta colorida no seu aniversário e que agora ele passeia pela rua “tirando onda” e se mostrando sarcasticamente com ela.
Além disso, são alienadas e não admitem se esforçar nem um pouquinho: não gostam de suar a camisa, gostam do ar condicionado, não gostam de ler e escrever, gostam de passear pela praia, não gostam de conviver com pessoas de personalidades distintas, gostam das mesmas pessoas a vida inteira, não gostam do caminho verdadeiro e íntegro, gostam dos atalhos, não gostam das pessoas, gostam do que elas podem lhes proporcionar, não gostam de pensar, gostam de executar, não gostam de ouvir, gostam de falar, não gostam do silêncio, gostam da baderna, não gostam da poesia e da arte, gostam da anarquia e da rebeldia sem propósitos, não gostam de trabalhar, gostam apenas do salário que recebem, não gostam do otimismo, gostam da negatividade, em suma, não gostam de amar, gostam apenas de estar.
E no fim, com toda essa alegoria pífia, recheada de ideias tolas e superficiais, tendo como base um rolo compressor de incontáveis fantasias criadas por um mentor embusteiro e possuindo como ferramenta principal uma gama variada de pensamentos idiotados, essas pessoas querem simplesmente empreender, isto é, querem que alguém aposte em seus produtos e serviços, querem fascinar os outros, querem liderar a sociedade, querem ser ícones ovacionados. Sinceramente, é ou não é coisa de palhaço de circo o que elas teimam em fazer?
Mas então, no que consiste um entendimento genuinamente vigoroso? Ora essa, todo empreendedor é puramente um escravo de seus sonhos. Ele é tomado por um espírito fauno que faz com que suas metas sejam buscadas com vigor e coragem, tornando suas habilidades e competências um amontoado perfeito de esferas absolutas.
Desta forma, ele não tem medo de ser humilhado se isso lhe trouxer benefícios, não se importa em ter que renunciar algumas coisas em prol da meta principal, desenvolve sempre suas skills, pois sabe que não nasceu com competências formadas, é o mais autoconfiante de sua cidade, não precisa de títulos ou condecorações para ser grande, não conhece pensamentos negativos e ideias apequenadas, sabe enxergar e apostar em talentos que a maioria das pessoas nem sabe que existem, tem pavor de monotonia e hábitos preguiçosos, tem aversão as obviedades e as enfadonhas ânforas já estabelecidas, é apaixonado por capacitar e desenvolver pessoas, tem caráter, honradez e ética, é invejado pela capacidade de viver sem nada mesmo ostentando tudo, é um estrategista que vai muito além do tabuleiro, objetivando alcançar um patamar onde somente mentes sublimes estão, é tão criativo que faz o vento trabalhar a seu favor, as nuvens rabiscarem os céus e as estrelas acenderem durante o dia, tem um coração ardendo em chamas, tem mãos capazes de atear novas soluções e incontáveis formas de escapar dos problemas, coloca a coragem sempre a frente de suas decisões e não descansa até ver seus projetos alicerçados e instituídos, enfim é uma criatura “anômala” perante as outras, por ser diferente, genial, acima da média, dona de olhos flamejantes e alma peculiarmente inovadora.
Voltar | Índice de Artigos |