Há alguns anos atrás a atividade de gestão de transportes resumia-se à contratação de Transportadoras, e normalmente era realizada pelo encarregado da área de Expedição ou por algum profissional de Compras, que escolhia seus parceiros a partir de critérios superficiais, com pouco embasamento técnico e com uma visão de custos bastante restrita e nada sistêmica.
A atividade de gestão de transportes era, até então, tratada como uma atividade simples e rotineira, e de pouco impacto sobre os custos da empresa, embora as despesas com fretes já representassem algo entre 5% e 10% da receita bruta da grande maioria das empresas, exceto aquelas com produtos de alto valor agregado.
Com o passar dos anos, devido principalmente à pressão por redução de custos e pela necessidade de ampliar áreas de atendimento geográfico, muitas empresas precisaram evoluir rapidamente, deslocando a atividade de gestão de transportes para um nível muito mais tático e estratégico, sem abandonar a veia operacional.
O moderno conceito de gestão de transportes vai muito além da simples contratação e monitoramento das Transportadoras, e envolve temas como:
- planejamento e execução de embarques, tratando de questões como freqüência de coleta e entrega, quantidade de Transportadoras e cobertura geográfica, agendamento de docas para carga e descarga, etc.
- otimização da capacidade de transportes, atuando na definição dos modais mais adequados, o dimensionamento e na definição do perfil da frota, formas de unitização de cargas, identificação de oportunidades de sinergia com Fornecedores, Clientes ou outras empresas não pertencentes à cadeia logística, etc.
- contratação de prestadores de serviços em logística e transportes, cobrindo atividades como a manutenção de cadastros de parceiros, critérios de homologação de parceiros, elaboração e administração de contratos de prestação de serviços, realização de cotações, definição dos níveis de requerimentos de serviços (SLA – Service Level Agreement), política tarifária, etc.
- monitoramento do desempenho, incluindo os indicadores de desempenho tradicionais e a gestão de não-conformidades em transportes, que podem representar um adicional de até 15% do frete inicialmente orçado, representando despesas com re-entregas e entregas não realizadas, multas, penalidades financeiras, sobre-estadias, avarias, etc.
- atividades burocráticas como a emissão e conferência de CTRCs.
- desenvolvimento e implantação de programas de excelência em transportes, no qual, através de critérios diversos, é possível ranquear, comparar e premiar as empresas parceiras.
- emissão de relatórios gerenciais para a tomada de decisão.
- gestão da logística global, envolvendo, por exemplo, soluções de freight forwarding, instalação de Centros de Distribuição em outros países, opção entre aduanas, etc.
- projetos em transportes, abrangendo desenvolvimento de embalagens e técnicas para a unitização de cargas, logística fiscal, terceirização logística, rede logística, benchmarking em transportes, etc.
Aquilo que era relativamente simples, passa a ser agora, amplo e complexo. Para se obter um desempenho classe mundial em transportes, as empresas precisarão atuar em todas as frentes anteriormente citadas.
Estamos diante de uma grande oportunidade para Transportadoras e Operadores Logísticos: a venda do serviço de gestão de transportes. Ou seja, anos e anos de conhecimento acumulado agora transformados em serviço de gestão de transportes, à serviço dos Embarcadores. Por que não vender o conhecimento e não apenas o caminhão? Nos Estados Unidos muitas empresas prestadoras de serviços em logística e transportes são avaliadas pelo montante de fretes que administram; por exemplo, uma Transportadora pode ter uma receita de R$ 120 milhões com fretes, mas administrar uma carteira de R$ 500 milhões! Imagine-se do outro lado da mesa, ao lado do Embarcador, contratando e gerenciando fretes, inclusive a sim mesmo!
Com a rápida evolução e amplitude do escopo de atuação da área, o profissional de transportes precisará buscar continuamente o seu aperfeiçoamento técnico, através de cursos e da leitura de livros. Infelizmente ainda é rara a literatura sobre transporte e poucos são aqueles que se aventuram em escrever artigos sobre o tema; o conhecimento está restrito aos profissionais que acumulam muitos anos de experiência na área e quem têm dificuldade de transformar essa bagagem prática e teórica em livros.
Além do conhecimento técnico e específico da área, é também importante estar em sintonia com a legislação em transporte, novas tecnologias e equipamentos.
E é também importante reforçar o conhecimento “periférico”, como estatística, pesquisa operacional, ferramentas do TQC e custos.
Há um longo e desafiador caminho a seguir. Persistência e aplicação serão fundamentais! Boa viagem!
Marco Antonio Oliveira Neves,
diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda
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