Ante o temor provocado pela crise fiscal europeia, é muito pertinente refletir sobre a conclusão de relatório divulgado no final de novembro pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL): entre 1990 e 2010, a taxa de pobreza na região caiu 17 pontos percentuais, recuando de 48,4% para 31,4% da população. A indigência foi reduzida em 10,3 pontos (de 22,6% para 12,3%). Os dois indicadores situam-se, agora, em seu nível mais baixo dos últimos 20 anos.
Os dados desse novo estudo, intitulado “Panorama Social da América Latina 2011”, indicam que os países da região deveriam prestar mais atenção ao seu potencial, dedicar-se a corrigir os problemas que atrapalham suas economias, ampliar ainda mais o processo de inclusão social, desenvolvendo o mercado interno, e temer menos a crise europeia. É preciso romper o paradigma da subserviência, da dependência e do temor de que se o Hemisfério Norte for mal, todo o mundo sucumbirá.
Essa reflexão vale de modo mais enfático para o Brasil, que vem promovendo, desde 2003, um expressivo movimento de ascensão socioeconômica das classes de menor renda, que constituiu reserva cambial superior a 300 bilhões de dólares, que tem sistema financeiro sadio e monitorado, na medida exata, pelo poder público, que soube adotar medidas anticíclicas adequadas em 2008 e 2009 e que, a despeito do menor crescimento em 2011, mantém o dinamismo da economia.
Assim, vamos priorizar soluções como as reformas tributária, trabalhista e previdenciária, aumentar a segurança jurídica e a pública, melhorar o ensino e a saúde, resgatar o déficit da infraestrutura, enfim, equacionar nossos reais problemas. Nossa economia ganhou alavanca própria. Para ela é muito mais importante vencer esses empecilhos históricos do que a superação da crise do Velho Continente.
O Brasil não pode desprezar-se. Hoje, já somos melhores do que os europeus em muitos segmentos, como na decisiva área de Tecnologia da Informação. Além disso, estamos à frente no agronegócio e em energia, incluindo fontes mais limpas e renováveis, como os biocombustíveis e as hidrelétricas. A Europa, com ou sem crise, continuará precisando de alimentos para sua população e insumos para sua indústria, e nós somos grandes fornecedores.
Cabe aos europeus encontrar soluções para seus problemas. Suas dificuldades são políticas. Afinal, para a mesma comunidade monetária do Euro, há distintas realidades na gestão do setor público. A despeito da eficácia e responsabilidade de alguns governos, o desequilíbrio fiscal gritante de outros contamina a mesma moeda. Talvez devessem pensar numa uniformidade mais aprofundada, derrubando de modo definitivo suas fronteiras políticas. De imediato, uma das alternativas é a que está sendo aventada por alguns economistas: compra das dívidas das nações mais afetadas pelo Banco Central Europeu, mesmo que seja utilizado para isso dinheiro sem lastro, gerando certa inflação.
Isso, porém, não é problema do Brasil. Nosso negócio é priorizar o foco nas soluções internas, acreditando em nosso potencial e capacidade. Estamos diante de uma grande oportunidade histórica de nos consolidar como uma das principais economias mundiais.
*Ivo Barbiero, economista, é presidente da proScore, Bureau de Informação e Análise de Crédito.
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