Essa é uma questão presente nas discussões dos diversos fóruns nacionais e internacionais. As pesquisas que tenho desenvolvido indicam diferenças importantes entre esses três papéis do executivo. Faço a seguir uma breve análise a respeito, o que pode ajudar você a refletir e a se posicionar, traçar o seu plano de desenvolvimento ou mesmo regular expectativas de ascensão em sua carreira.
A primeira grande pergunta que você talvez se faça é: ser líder e ser gestor não são a mesma coisa? A resposta é não. O gestor ocupa uma posição formal na hierarquia. Portanto, se você tem um cargo formal de "chefia" e é responsável por outras pessoas, é um gestor. E como se define o bom gestor? Para isso temos como parâmetro a competência na articulação e viabilização dos componentes mais racionais de uma empresa: estratégia, processos e estrutura.
Ou seja, o bom gestor é eficiente na criação de bases para resultados empresariais sustentáveis. Contribui significativamente para melhorar, de forma evolutiva e consistente, o desempenho da organização, mesmo que precise fazer uma mudança radical. Porém, as competências do gestor não bastam para garantir a eficiência nesse tipo de mudança. Ele tem de lançar mão das qualidades do líder.
O líder opera com a energia que mobiliza a empresa. Isto é, seu foco está nas dimensões mais emocionais da gestão: pessoas, liderança e cultura. Reconhecidas no mercado como mais soft, tais dimensões geram, ou não, a energia mobilizadora para o processo de transformação. Diferentemente do gestor, o líder é legitimado por seus liderados. Ele não existe sem liderados voluntários, portanto essa legitimação representa uma conquista. As pessoas seguem voluntariamente um líder; permitem que ele as lidere quando se identificam com seus conceitos, aspirações e expectativas. A essência da liderança é a capacidade de construir e sustentar esse relacionamento, que é interativo e envolve troca, influência e persuasão. Liderar é também saber mobilizar as pessoas na direção de uma aspiração comum, trazendo significado para a vida delas.
Vale ressaltar ainda que os líderes têm alguns traços em comum, que ajudam a definir seu papel. Pesquisas que desenvolvi em conjunto com um grupo da Wharton University e com Sumantra Ghoshal, da London Business School, apontam alguns desses traços, frequentes em muitos países: visão de futuro - capacidade de compartilhar sonhos e de criar significado para as pessoas; credibilidade - o líder age inspirado em valores como justiça e gera confiança; relacionamento mobilizador - ao relacionar-se, tem a capacidade de mobilizar o coração e a alma das pessoas. Para obter isso um dos principais requisitos é a comunicação competente; Comportamento "agridoce" - gera sofrimento, mas ajuda a cuidar dele (atenção: não é o bate-sopra típico das culturas paternalistas); alto grau de autoconhecimento - ouve sua voz interior, conhece e reconhece seus pontos fracos.
Além dessas características, foram identificadas como importantes a ambição e o sucesso. Afinal, ninguém gosta de seguir gente malsucedida. Bom lembrar que nem todos são líderes o tempo inteiro e em todos os lugares, pois isso depende dos valores, do contexto em que o indivíduo está e da dinâmica dos grupos.
Listadas as principais diferenças entre o gestor e o líder, você tem alguns elementos para refletir sobre sua posição, seus planos, suas expectativas. Para ajudá-lo um pouco mais nessa reflexão, falemos sobre como é o diálogo entre esses dois papéis.
Como vimos, enquanto o líder opera mais na mobilização das pessoas, o gestor cuida essencialmente da eficiência operacional da empresa. Mas a integração dessas duas dimensões - a emocional e a racional - é fundamental para o crescimento da organização. Ela precisa de um dirigente, ou seja, de um gestor que consiga somar, no seu perfil e em sua ação, as suas capacidades com as do líder.
O conceito de dirigente não está relacionado ao topo da hierarquia. Pessoas de qualquer nível hierárquico podem ser dirigentes na sua esfera de atuação, basta trabalhar integrando as tarefas com as relações e ter coragem de mudar o fluxo natural das coisas.
O dirigente não opera apenas na manutenção, na melhoria contínua. Nem mesmo na mudança radical seu foco é apenas estratégia, processos e estrutura. Tampouco está focado fundamentalmente na dimensão das pessoas, da liderança e da cultura. Ele vai muito além: reconhece o fluxo natural e o altera, com coragem, com garra, como exige o mundo empresarial de hoje. Tem um propósito claro, uma visão de futuro que ilumina suas decisões e ações. Ele assume os riscos. E você?
Autora: Betania Tanure
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