Listas como essa abaixo são bastante comuns nos artigos americanos (Do’s e Don’ts). Desse modo, resolvi preparar a minha própria versão para o artigo desse mês.
Não faça: Contratar pessoas parecidas com você
Uma tentação forte. Nas entrevistas, você procura se identificar com os candidatos e acaba contratando quem você acha que se sentirá mais à vontade. Se fizer isso, ou pior, contratar amigos, vai ter problemas no longo prazo e correrá o risco de tomar decisões erradas. Procure pensar em que tipo de profissional você precisa e não em quem você gosta. São pessoas diferentes que vão te trazer visões distintas do que você pensaria, pontos de vista variados proporcionam decisões mais centradas e equilibradas. Outra coisa: procure pessoas melhores do que você. Empreendedores inseguros se sentem ameaçados por pessoas mais competentes do que eles. Não caia nesta armadilha, a empresa só vai crescer quando, em algum momento no futuro, você perceber que ela não precisa mais de você e pode ficar na mão de seus funcionários.
Não faça: Centralizar demais as decisões
Este é um dos maiores defeitos do empreendedor. Empreendedores com dificuldade de delegar decisões impedem o crescimento do seu negócio, pois eles não conseguem centralizar tudo o que envolve um negócio complexo e dinâmico. Trata-se de um comportamento natural, pois o empreendedor atribui a si mesmo o sucesso do seu negócio e não acredita que outras pessoas possam tomar as mesmas decisões que ele tomaria. Para muitos, delegar é uma verdadeira dor, reflexo de pura insegurança e desconfiança. Se as pessoas forem competentes, suas decisões podem não ser as mesmas do empreendedor, mas não necessariamente serão decisões erradas.
Não Faça: Economizar com pessoas
Embora alguns funcionários possam ser considerados como mera mão de obra operacional, que podem ser facilmente substituídos quando necessário, o empreendedor precisa saber identificar os talentos que trabalham para ele, com quem ele poderá contar para cumprir as duas dicas anteriores. Já falei na minha coluna que dinheiro não motiva ninguém. Vários estudos demonstram que aumentar salários não garante que a pessoa fique mais motivada e se engaje mais com o trabalho. Por outro lado, se essas pessoas sentirem uma sensação de injustiça na relação entre o que eles agregam ao negócio e a remuneração que recebem, certamente se sentirão desprestigiados e desmotivados, podendo abandonar o empreendedor a qualquer momento. Não coloque salário como incentivo, mas pague a eles acima da média do mercado. Eles se dedicarão mais se esse assunto não estiver incomodando. O retorno certamente valerá a pena.
Não faça: pedir dinheiro de investidor se não estiver realmente precisando
Existe uma ideia fixa na mente do empreendedor em geral, e não só o brasileiro, de que ele só pode começar seu negócio com grandes volumes de investimento. Se a maioria fizer um pouco de contas descobrirá que pode-se começar com uma estrutura bastante enxuta, que requer pouco comprometimento financeiro. O americano tem uma palavra para a prática de começar com pouco dinheiro que eu adoro: ‘bootstrap’. Muitos empreendedores famosos começaram com bootstrap, na garagem ou em um quartinho emprestado. Além disso, ter um investidor ao lado do empreendedor pode representar mais problema do que vantagem, pois isso resulta em um pouco da sua liberdade nas decisões estratégicas sobre o negócio. Muitos procuram um sócio capitalista sem pensar direito nestas implicações negativas.
Não Faça: Abrir um negócio apenas pelo dinheiro
Já vi muitos negócios fracassarem porque o empreendedor perdeu o gás no meio do caminho. Aquela chama da paixão, do engajamento, da persistência é diretamente proporcional à identificação do empreendedor com a natureza do negócio. Se esta identificação for apenas pelos ganhos financeiros que o negócio proporciona, sem que haja nenhum vínculo pessoal com o negócio, é bastante provável que o empreendedor não sinta mais que o dinheiro compense aquilo que se torna uma verdadeira ‘dor de cabeça’ na medida que vai se tornando maior e mais complexo. Quando o empreendedor começa a lamentar acordar todos os dias para fazer algo que dá dinheiro, mas não dá prazer, ele começa a ficar desleixado, perde o interesse e passa a se preocupar mais em como gastar o dinheiro do que com o negócio. Nesse momento, ou o negócio afunda, ou ele se dá conta disto antes e consegue vendê-lo para fazer outra coisa que lhe dê mais prazer.
Faça: você mesmo o plano de negócio
Tenho sido contatado por empreendedores que me encomendam um plano de negócio. Alguns deles querem simplesmente que eu faça todo o plano, estude o mercado, levante as informações, defina a estratégia, desenhe os cenários de projeções e lhe entregue tudo pronto no final. Eu costumo, gentilmente, recusar este tipo de proposta, pois sei que esse plano ficará na gaveta. Escrever um plano de negócio dá trabalho, principalmente para coletar as informações necessárias. Mas é um exercício fundamental de aprendizado sobre o negócio. É com esta prática que o empreendedor conhece o negócio, se antecipa aos riscos, conhece pessoas, aprende as particularidades do setor e vislumbra com mais clareza a potencialidade do negócio. Isso não se obtém lendo um plano pronto, e sim, na interação necessária com o ambiente para escrever o plano de negócio. Se o empreendedor tiver preguiça ou não dispuser de tempo nem para isso, certamente não é um negócio que ele quer começar.
Faça: Conheça a si mesmo
O processo de auto-aprendizado e auto-conhecimento deve ser contínuo e ininterrupto, durante todas as fases de vida do empreendimento. Empreendedores que se conhecem bem são mais seguros, auto-confiantes e determinados. Esta segurança transparece em seu relacionamento com clientes, empregados e parceiros, sendo uma característica muito positiva para o negócio. Na medida em que o negócio se desenvolve e cresce, inevitavelmente o empreendedor evolui de forma proporcional. Ele amadurece com a experiência, incorpora o aprendizado dos erros e afina sua visão do todo e capacidade perceptiva. É preciso buscar sempre este auto-conhecimento para saber o quanto ele evoluiu de ontem para hoje ,e de hoje para amanhã. Existem várias formas de se auto-avaliar, seja por meio de feedback de pares e membros da equipe, seja por meio de mentores e coachs ou assistência profissional de psicólogos.
Faça: Peça dinheiro quando não precisa dele
Esta dica foi dada pela Kathy Einsenhardt da Universidade de Stanford. Se for pedir dinheiro para uminvestidor, não peça quando precisar de capital. Nesse momento, o empreendedor já está desesperado e perde o poder de barganha. O melhor momento de pedir dinheiro é quando se ainda não precisa, mas já existe algo palpável para apresentar. Se já tiver um protótipo do produto, uma patente registrada, um cliente confirmado, uma parceria estratégica firmada, ou qualquer coisa que mostre que o negócio é viável e já está rodando com resultados concretos. Esses elementos dão credibilidade ao negócio, senso de comprometimento do empreendedor e poder de barganha na negociação. Um bom plano de negócio ajuda a identificar a necessidade de recursos no futuro, antes de efetivamente surgir a necessidade.
Faça: Experimente algo que ninguém tentou antes
Falar de inovação é mais fácil do que praticar. Inovar faz parte da natureza do empreendedor e é uma das características que o diferencia do pequeno empresário. O problema é que fazer algo diferente do que você está habituado a fazer, diferente do que os concorrentes fazem e diferente do que o mercado compra, é um desafio com altos riscos. Mas é onde o negócio pode achar seu verdadeiro diferencial. A melhor estratégia para fazer isso é experimentar em pequena escala, se possível. Tentar algo experimental com alguns clientes de confiança, preparar um teste de conceito, desenvolver um protótipo ou algo que possa ser tentado com mínimos prejuízos se der errado. A ousadia é uma característica do empreendedor, mas ele não assume qualquer tipo de risco, ele sempre procura formas de minimizar os riscos e a experimentação é uma destas formas.
Faça: Seja honesto
Às vezes vejo empreendedores dizer que vão sonegar impostos, inflar o valor do negócio além do real ou vender o que não têm para seus clientes. Justificam estas práticas como riscos que todo empreendedor precisa saber correr para tirar seu negócio do chão. Talvez a ideia equivocada é que a percepção do risco está na pura perda de um cliente ou de pagar as taxas de juros depois se for descoberto. O problema, na verdade, é mais profundo. Ser desonesto pode ser uma imagem que o empreendedor cria para si mesmo que gera um impacto muito maior do que o imaginado. Talvez, se ele soubesse o verdadeiro risco que expõe ao seu negócio por não cuidar da imagem, ele não adotaria certas práticas. Ser honesto, por outro lado, proporciona um efeito inverso: cria uma reputação, fortalece uma imagem positiva, gera credibilidade. Certamente, vale a pena ser honesto no mundo dos negócio.
* Marcos Hashimoto é professor de empreendedorismo da ESPM, consultor e palestrante (www.marcoshashimoto.com)
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