Escrever um artigo com um número de erros que um empreendedor deve evitar não é nada de novo, pois certamente já viu vários artigos com este título. Mas hoje pretendo escrever sobre alguns daqueles erros que, por experiência própria, foram cometidos e outros que felizmente foram evitados a tempo, e não sobre algo teórico que estamos habituados a ler.
O empreendedorismo não é um caminho fácil, nem a nível pessoal, nem a nível profissional. Temos de saber lidar com os dois da melhor maneira. Também não vamos pensar que trabalhar para outros é mais fácil. Tudo tem os seus prós e contras.
Quais são os três erros, desde a minha perspectiva, que um empreendedor deve evitar?
Saber respeitar a empresa e a família: Quando se é dono de uma empresa, não temos horários, não há limites no trabalho, porque estamos a trabalhar em nosso próprio interesse e sobrevivência. Não há quem nos pague um ordenado no final do mês, se não fizermos por isso.
Mas será que a família assim o entende? Muitas vezes a resposta é não. Para o homem ou mulher que não é empreendedor, difícil é entender que o empreendedor não possa fazer o que quer, uma vez que é o dono da sua própria empresa. A aparente flexibilidade que um empreendedor tem, o não ter um chefe, dá a entender que podemos fazer o que queremos. Mas não é verdade, e é de difícil compreensão por parte do outro que trabalha numa empresa com horários e tem um chefe. O meu conselho é que não vale a pena debater-se pelas diferenças, mas sim definir uma regra. As horas de trabalho têm de ser respeitadas e as horas de convívio com a família também. Respeitar esta regra exige do empreendedor mais rigor nos seus horários, e dedicação total para evitar trabalhar sem horários. Respeite o próximo porque será igualmente respeitado.
Começar em grande: Quando se inicia uma actividade, e em especial quando esta é financiada por um investidor, que faz com que tenhamos dinheiro fresco e disponível, a tendência é começar a "casa pelo telhado". Começamos a comprar tudo o que é necessário para o negócio como se ele já estivesse em velocidade de cruzeiro. Este é um erro fácil de se cometer. Não devemos investir na totalidade se podemos fazê-lo por fases. Vou tentar dar um exemplo entre um carro e uma bicicleta. Se a ideia é vender ao consumidor a inovadora ideia de que pode passar a andar de carro em vez de bicicleta, temos primeiro de investir num carro base, ou seja, sem grandes acessórios (radio, GPS, ar condicionado) pois apenas com isso é possível medir o interesse do consumidor, que é o que pretendemos. O que devemos sentir primeiro é se o cliente prefere andar de carro, deixando assim a bicicleta ou se isso é algo que não o convence.
A partir do momento em que o cliente aceite mudar da bicicleta para o carro, então passamos para a segunda fase, ou seja equipá-lo melhor para nos diferenciarmos da concorrência, garantir mais clientes etc. A prova de conceito, antes de investir num modelo completo, é fundamental.
Se há dinheiro disponível, a tendência é construir o modelo final sem ter o conceito aprovado pelo nosso cliente numa versão base. Se a versão base não foi aceite gastámos muito dinheiro desnecessariamente e podemos, com isso, perder uma oportunidade.
Analise o mercado: Quando a vontade de montar um negócio é gigantesca, a tendência é ficar cego, sobre o que existe ou não existe no mercado, e pensar que a nossa ideia é certamente uma ideia vencedora. Antes de montar qualquer negócio, faça você mesmo um pequeno estudo de mercado sobre o que existe. Primeiro tem de averiguar se o seu produto ou serviço já existe no mercado e a que escala, para medir a concorrência e as diferenças que apresenta de forma a avaliar o potencial da sua ideia. Mas, e caso não encontre no mercado nada parecido com a sua ideia, não fique demasiado entusiasmado. Pense sempre que ideias como a sua já existiram noutras cabeças e as razões de não estarem no mercado podem ser diversas. Tem de saber chegar ao mercado da melhor maneira, o que significa que tem de chegar com o produto ou serviço certo, o modelo de negócio certo, o preço certo, e conseguir a sustentabilidade da sua ideia. Todos estes passos são difíceis de dar, e é por isso fundamental analisar o mercado, desde a concorrência, até a aceitação da ideia no mesmo.
Não cometa o erro de lançar, por exemplo, um serviço e depois descobrir que já existia no mercado, detido por um gigante no mercado e que não lhe irá dar qualquer oportunidade de entrar nesse sector.
Por hoje deixo ficar os três primeiros erros a evitar no empreendedorismo, mas para a semana voltarei com mais três, onde irei abordar o medo dos empreendedores, o que evitar na internacionalização e como tratar os seus colaboradores.
Envie para o "e-mail" jng@negocios.pt todas as suas questões, dúvidas ou experiências sobre "Os primeiros três erros a evitar no empreendedorismo"
*Nuno Carvalho - Fundador e líder executivo da Zonadvanced - Grupo First
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