Certa vez, um alto executivo de uma editora perguntou-me o que eu achava que mais motivava as pessoas. Relutei muito em responder, pois nos livros e eventos sobre liderança há muitas orientações positivas sobre métodos para motivar indivíduos e equipes. Neles, o líder deve procurar em cada profissional o valor que este vê em trabalhar na empresa, no departamento ou em realizar certa tarefa. Desse modo, ao comunicar-se, o gerente deve inserir os elementos dessa resposta, seja dinheiro, aprendizagem, alcançar metas ou vencer desafios, entre outros.
Entretanto, quando observo a realidade, surpreendem-me algumas pessoas que ficam mais motivadas a fazer algo somente quando há a certeza de que não serão responsabilizadas pelo resultado de suas ações.
Dentro das empresas, observarmos que certos empregados fazem o mínimo necessário para não ser demitidos e evitam qualquer oportunidade que possa lhes trazer maiores responsabilidades ou problemas. Por exemplo, alguém observar um indivíduo, principalmente um chefe, fazer algo errado e omitir-se, pois, além de não ser sua incumbência, precisa preservar o emprego. O resultado disso é resignação e cinismo, que não aparecem apenas no ambiente de trabalho, mas também em fatos do cotidiano, como os mencionados.
Aparentemente, alguns querem tirar o maior proveito possível de seu ambiente, mesmo que, para tanto, tenham de cometer crimes que, esperam, serão relevados. Infelizmente, o seu entorno permite que isso aconteça.
Portanto, devemos esperar que a torcida do Corinthians se revolte, não contra a morte, mas contra a punição que está sendo imposta a ela. Afinal, não se considera responsável pelo que houve. Apesar de, assim como as demais torcidas, nunca ter refletido, expressado e agido para impor limites ao que é razoável a alguém que simplesmente aprecia uma modalidade esportiva. Afinal, ser um torcedor não qualifica ninguém para nada.
Também é difícil, mas necessário, nos sentirmos responsáveis pela reflexão sobre o fato de uma jornalista vir de Cuba expressar-se no Brasil, e um grupo impedi-la de fazê-lo. Como se isso não afrontasse diretamente a Constituição que foi construída por brasileiros, não pelo regime ditatorial de Cuba.
O mesmo silêncio, diante desses atos, é o que encontramos nas empresas, onde, como consequência, por vezes, pessoas despreparadas assumem cargos relevantes. Motivadas pelo dinheiro e, principalmente, pelo sucesso a qualquer custo, ocupam o espaço daqueles que, embora preparados, são silenciosos demais. E esperam que o mundo ofereça, em algum momento, um ambiente mais justo para que o jogo empresarial ocorra e, então, possam expressar-se.
Somente amadurecemos, como país e como sociedade, com ações individuais que deixem claras nossa opção por não tirar proveito do ambiente para cometer ilicitudes. Sejamos, nós mesmos, a fonte de ética, correção e de valores elevados. Não esperemos ninguém!
Dois valores que fomento são: coexistência e construção. Não vejo o primeiro em nenhuma das ações dessas torcidas organizadas. Tanto quanto penso que não lutamos contra a ditadura para construir uma democracia parcial, na qual somente aqueles que concordam com as ideias daqueles no poder possam se expressar.
Penso que temos um aprendizado constante, imperfeito e interminável, em direção ao aprimoramento contínuo de valores. Mas que seja esse caminho nosso principal motivador no trabalho e na vida.
* Sílvio Celestino - Autor do livro Conversa de Elevador – Uma Fórmula de Sucesso para sua Carreira, Sílvio Celestino é sócio-fundador da Alliance Coaching. No Twitter: @silviocelestino.
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