O uso de palavras estrangeiras na língua portuguesa não é assunto que possa ser tratado com tanta simplicidade como alguns imaginam.
Meus leitores bem sabem que não sou um purista, do tipo que rejeita qualquer “estrangeirismo”. Entretanto, sou contra a invasão dos “modismos” e dos “exageros desnecessários”.
Quanto a este assunto, eu me considero um moderado. Já expus o meu pensamento aqui, mas não custa repetir:
1o) Toda vez que surgir a necessidade de usarmos uma palavra ou expressão estrangeira, devemos buscar uma forma equivalente em português. Em vez de “beach soccer”, podemos usar futebol de areia. Por que “dar o start” ou “startar”, se podemos iniciar ou começar?
2o) Se a tradução não “funciona”, devemos tentar o “aportuguesamento”: contêiner, estressado, futebol, blecaute, bufê…
É lógico que sempre haverá casos discutíveis: correio eletrônico ou e-mail, xampu ou shampoo?
3o) Caso a tradução e o aportuguesamento “fracassem”, só nos resta aceitar o termo estrangeiro na sua forma original: software, marketing, impeachment, réveillon…
Leitores desta coluna pedem espaço para expor suas ideias:
“As companhias telefônicas mencionam na propaganda ligações de longa distância. Isso é tradução literal do inglês. No Brasil essas ligações são conhecidas como “interurbano”. Na televisão dizem que ‘nossas operadoras esperam sua ligação’ quando o termo usual no Brasil é “telefonista”. Estamos perdendo nosso idioma.”
Outro leitor nos escreve: “Algumas pessoas têm a mania idiota e colonizada de encher suas frases e discursos de termos e expressões em inglês (…) Costumam se justificar dizendo que ‘em inglês fica mais conciso, preciso. Quando me dizem isso, peço logo para verterem para o inglês a frase Era uma vez um velhinho… Em português são 5 palavras e 23 caracteres (inclusive os espaços). Em inglês, Once upon a time there was a little old man… 10 palavras e 44 caracteres.”
Concordo em parte com os leitores. Não há necessidade alguma de substituirmos as “velhas” telefonistas pelas “modernosas” operadoras. Também prefiro o tradicional interurbano, mas vamos botar um pouquinho de pimenta no assunto, para tornar a discussão mais gostosa: a expressão ‘ligação de longa distância’ não estaria sendo usada num sentido mais genérico, para englobar o DDD e o DDI?
Mais leitores se manifestam:
“Pude constatar, em algumas páginas portuguesas na Internet, o uso de “páginas domésticas” em vez de “homepage”, confirmando assim a xenofobia que ocorre em Portugal…”
“Foi uma surpresa ao me deparar com as traduções de nomes estrangeiros em Portugal. Já pude perceber há bastante tempo, desde meus primeiros dias de Internet. (…) “Grid de largada” lá é “Grelha de partida”. O piloto Mika Hakkinen nesceu em Helsínquia, na Finlândia. E que tal a tradução de “mouse” para “rato”, referindo-se a um dos principais acessórios de qualquer PC hoje em dia?”
Para nós brasileiros, o problema torna-se maior quando o termo estrangeiro já está consagrado. A substituição fica muito difícil. Não acredito que “páginas domésticas”, “grelha de partida” e “rato” venham a ser usados no Brasil.
“Os portugueses criticam duramente o fato de usarmos o termo “bonde” (de origem inglesa) para designarmos o que aqui se chama de um “eléctrico”. No entanto, usam calmamente termos tais como “tablier” (do francês) para designar o painel de automóvel, “mable” (do inglês) para designar um tipo de sofá, além das citadas “impeachment”, “shopping center”, “talk show”…
Tudo isso prova que não devemos ser radicais. Podemos valorizar a língua portuguesa, mas sem xenofobia.
Duro mesmo é caminhar no calçadão da praia de Ipanema no Rio de Janeiro, com toda aquela beleza que Deus lhe deu, e repentinamente encontrar um tal “Muscle Beach”. Será que uma “musculação na praia” não faria o mesmo sucesso?
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