Colunista

Sincronicidade: ser altruísta ainda vale a pena?

Certa vez, Carl Jung ouvia o sonho de uma paciente. Na história, o protagonista era um escaravelho. De repente, o detetive de mentes ouviu um ruído na janela. Abriu-a e encontrou ali um besouro semelhante ao descrito.

Jung chamava a sincronicidade de “coincidência significativa”. Segundo ele, todas as coisas do universo estão interligadas por algum tipo de vibração.

Assim, eventos físicos e não físicos estabeleciam, vez ou outra, padrões sincrônicos. O que era isolado tornava-se matriz de uma repetição.

O assunto rendeu boas conversas entre Jung e Einstein.

De fato, ideias relevantes costumam surgir em vários lugares ao mesmo tempo, ainda que não exista qualquer conexão entre seus autores. A história da ciência, por exemplo, está repleta desses casos intrigantes.

Há poucos dias, recebi do amigo Alberto Kunath a informação de que o tema da redação da FUVEST 2011 parecia um plágio da ideia central de meu próximo livro, cujo título é “A Economia do Cedro”.

Na obra, emprego como alegoria essa árvore que leva muito tempo até se tornar adulta. E, muitas vezes, quem a plantou não vive o suficiente para vê-la altaneira e vigorosa.

Trata-se, portanto, de um símbolo de altruísmo, de solidariedade e de responsabilidade.

Dessa forma, apresento conceitos de preservação ambiental, inclusão social, qualidade de vida no trabalho, produtividade sistêmica e desenvolvimento sustentado.

Bom... De repente, vejo que o tema de redação da FUVEST é basicamente o mesmo: “altruísmo e pensamento de longo prazo no mundo contemporâneo”.

Trata da palma talipot, natural do Sri Lanka, que floresce uma única vez na vida, cerca de 50 anos depois de plantada. Em seguida, inicia um longo processo de morte, durante o qual produz muitas e muitas sementes.

Pois, Burle Marx, plantou algumas dessas palmas no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. E, na época, um visitante lhe teria dito:

- Como elas levam tanto tempo para florir, o senhor não estará mais aqui para ver.

E o paisagista, já com mais de 50 anos, teria respondido:

- Assim como alguém plantou para que eu pudesse ver, estou plantando para que outros também possam contemplar.

O caso ilustra a necessidade de um pensamento de longo prazo no mundo atual. Sem um senso de destino compartilhado, a civilização e o planeta correm sério perigo.

Por fim, a turma do vestibular apresenta uma frase (alarmante) de G. Lipovetsky, citada por Zygmunt Bauman, em A arte da vida (Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2009):

- A cultura do sacrifício está morta. Deixamos de nos reconhecer na obrigação de viver em nome de qualquer coisa que não nós mesmos.

Ora, frequentemente nos esquecemos de valorizar a contribuição de nossos antepassados.

Quase todas as ruas de nossas grandes cidades foram abertas, na enxada e na picareta, por pessoas que já não estão entre nós.

O telefone, a TV e o automóvel também são invenções e desenvolvimentos de gente que já partiu.

Fica então a pergunta: e nós, o que estamos plantando para as próximas gerações?

Nesse sentido, gerir tende a ser, cada vez mais, uma ação estratégica de construir pontes para um futuro melhor.

Lucros são importantes? Sim, sem dúvida. Eles atestam competência e premiam o esforço empreendedor.

Porém, mais importante ainda é a felicidade presente e futura. Não somente a nossa, mas também aquela de nossos pares e descendentes.

Pense nisso na hora de tomar decisões que produzem impactos na sua empresa, na sua família e na sociedade.

Muita gente não é altruísta (ou apenas finge ser), mas é certo que essa virtude pode ser desenvolvida por meio de reflexão, de atitudes solidárias e condutas responsáveis.

A nova década está começando. Excelente momento para começar esse exercício. Acredite: um único ato de amor pode gerar infinitos momentos de felicidade, até mesmo no futuro remoto.

Então, que tal sincronizar-se?

Afinal, a teoria na prática, funciona!

Contatos através do e-mail: julio@carlosjulio.com.br
Site: www.carlosjulio.com.br

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