Colunista
Qual a lição do capacete invisível?
Gostaria, desta vez, de destacar a natureza e utilidade dos produtos realmente inovadores. Após a popularização dos computadores, e particularmente da Internet, o processo de invenção passou a se desenvolver preferencialmente nos cérebros eletrônicos.
A adoção desse conjunto de ferramentas rendeu resultados espetaculares em vários segmentos da indústria. A construção de modelos virtuais permitiu, por exemplo, a realização de testes seguros de resistência e durabilidade de inúmeros produtos, de automóveis a raquetes de tênis.
Houve, no entanto, em muitos casos, uma diminuição considerável da frequência às antigas oficinas e laboratórios, conforme relatos de universidades dos Estados Unidos e da Europa. Para muitos jovens, as experiências mecânicas são demoradas, imprecisas e tediosas.
Por conta dessa aversão à experiência concreta, excelentes ideias não são capazes de migrar da virtualidade para o mundo concreto.
Muitas das novas invenções são programas, aplicativos e recursos de comunicação que não podem ser utilizados fora das caixinhas de chips.
O tema mereceu especial atenção durante a realização do Index, um dos mais prestigiados eventos de design do mundo. Para muitos dos participantes, é preciso construir novas pontes entre o universo digital e o não digital.
De acordo com essa corrente, ainda existem muitas demandas não atendidas na dimensão concreta da existência. Há doenças sem cura, fome, insegurança e muito sofrimento gerado pelo trânsito, pela poluição e, agora, pelas mudanças climáticas.
Entregue recentemente, numa cerimônia na Copenhagen’s Opera House, na Dinamarca, o prêmio maior do Index refletiu essa preocupação. A ganhadora foi a inventora do Hövding, um capacete invisível para ciclistas.
Semelhante a uma echarpe, a ser usado à volta do pescoço, ele carrega sensores que detectam movimentos anormais durante um deslocamento.
Em caso de queda ou colisão, o equipamento se transforma numa espécie de air-bag anatômico, que efetivamente protege a cabeça do usuário.
É simples, e ao mesmo tempo muito sofisticado. Foi desenvolvido a partir da detecção de uma necessidade, da construção de um modelo digital e da materialização de um protótipo.
Isso quer dizer que os inventores foram para oficina e testaram o novo produto em pessoas de carne e osso.
Trata-se de uma boa lição também para as empresas. Muitas vezes, ouvimos falar em “soluções corporativas”, mas nos deparamos com ferramentas que se restringem ao processamento e transmissão de dados.
Sem dúvida, essa interface é fundamental. Mas ainda precisamos de pontes, de escadas rolantes inteligentes, de aparelhos comunitários de reciclagem, de olho no olho, de experiências vivenciais, de apertos de mão e de abraços.
Contatos através do e-mail: julio@carlosjulio.com.br
Site: www.carlosjulio.com.br
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