Colunista
Será que a culpa é de São Pedro?
Ainda ontem, soltamos a nossa News semanal, e você deve estar estranhando o recebimento de outra, logo em seguida. Não é?
Pois bem... Aquilo que Jung chama de “coincidências significativas” me fizeram escrever novamente, de pronto, reagindo aos acontecimentos.
Se o fator de sincronia foi ontem a redação da FUVEST, hoje é o caos provocado pelas chuvas em São Paulo.
Em meu livro “A Economia do Cedro” procurei tratar cuidadosamente do tema “mudanças climáticas”.
Apresentei dados que atestam, por exemplo, a rápida mudança no padrão de eventos naturais. Mostrei, por exemplo, que as tabelas de previsões meteorológicas precisam ser atualizadas.
Bem... Mal aquela News chegava ao seu computador e os portais na Internet mostravam que já choveu, em 11 dias, 93% do previsto para Janeiro, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências.
O resultado foi uma noite trágica na maior região metropolitana do país. O rios Tietê e Pinheiros transbordaram. O mesmo ocorreu com muitos córregos.
Semáforos pararam de funcionar. O lixo tomou conta das ruas.
E o pior de tudo: segundo o Corpo de Bombeiros, pelo menos 14 pessoas morreram nessas horas de medo e angústia.
Neste momento, os oportunistas partidários encontrarão inúmeros culpados. Atribuirão a responsabilidade aos administradores filiados à agremiação rival.
Estes, sem corar, vão colocar a culpa no pobre São Pedro.
A verdade é que o planeta está mudando. A tendência é que eventos máximos como esse ocorram com frequência cada vez maior.
Já não chove como antigamente nestas bandas. Está mudando o padrão. Está aumentando a quantidade de água despejada sobre a Grande São Paulo.
Se a gestão tende, cada vez mais, a se tornar a gestão da mudança, apresenta-se aí, nesta área, um enorme desafio para todos nós.
No “agora”, os administradores precisam ter muito mais atenção à limpeza de bueiros e galerias. Precisam modernizar e agilizar o sistema de coleta e descarte de lixo. Precisam corrigir a pavimentação dos pontos de alagamento e instalar sistemas adequados de drenagem.
Do ponto de vista macroestrutural, faz-se necessário alterar drasticamente os paradigmas de produção e construção.
As enchentes, na verdade, são resultado de um descaso histórico. A responsabilidade não é somente dos governantes atuais, mas também de seus antecessores.
Ou seja, esse é um problema antigo e sistêmico.
A versão virtual da Folha de S. Paulo de hoje traz um texto da arquiteta Raquel Rolnik, da USP. Segundo ela, o caos de janeiro se deve à “opção de construir um sistema viário principal ao longo da várzea dos rios”.
Ela critica veementemente a teimosa opção por uma política de mobilidade rodoviarista em São Paulo.
“O pior de tudo é que os novos projetos nessa área, como, por exemplo, o alargamento da Marginal do Tietê, repetem exatamente o mesmo paradigma, ainda que já saibamos que as consequências serão funestas”, escreveu a especialista.
Enfim, o resultado de tudo isso foi também danoso à economia. Gente perdeu o horário no serviço. Consultas foram desmarcadas. Reuniões de negócios foram canceladas.
A natureza nos enviou mais um alerta. O que faremos a respeito?
Afinal, nestes casos, as práticas convencionais têm mostrado que as teorias da gestão urbana estão velhas e ultrapassadas.
Quem sabe, no entanto, a prática subordinada ao susto e à contingência nos leve a escrever uma nova teoria.
É urgente!
Contatos através do e-mail: julio@carlosjulio.com.br
Site: www.carlosjulio.com.br
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