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Colunista

Gestão do legado: como viver por 200 anos?

Os seres humanos sapiens surgiram na África há aproximadamente 200 mil anos, desenvolvendo o comportamento moderno há mais ou menos 50 mil anos.

É uma carreira ainda curta, num planeta que surgiu há 4,54 bilhões de anos.

Vivemos rapidamente, como vagalumes, efêmeros e anônimos. Muitos indivíduos passaram por este mundo e nem mesmo foram notados.

Para isso contribui o período curtíssimo de nossas vidas. Ao término da primeira década deste século (2010), a expectativa de vida do brasileiro ao nascer chegou a 73,4 anos. No mundo, era de 66,5 anos.

E nem é tão pouco. A expectativa de vida ao nascer no mundo, no início do Século 20 era de 31 anos. Na Grã-Bretanha Medieval era de 30 anos. No Neolítico, de 20 anos.

Cabe lembrar, no entanto, que as vidas eram relativamente monótonas e repetitivas para a maior parte de nossos antepassados.

Nasciam e morriam, quase sempre, no mesmo lugar. Faziam o mesmo que seu pais, avós e bisavós. Trabalhavam no campo e esgotavam seus anos diante de uma única paisagem.

Em relação a 100 anos atrás, a vida tem um grau de diversidade mil vezes maior, considerando-se a evolução dos transportes, o aperfeiçoamento dos meios de comunicação e o desenvolvimento da tecnologia de conexão digital.

Por isso mesmo, parece-nos, muitas vezes, que viver 100 anos é pouco. Não é tempo suficiente para vivermos todas as experiências possíveis.

Justamente para esticar seu tempo na Terra, o escritor, inventor e futurista norte-americano Ray Kurzweil (64 anos) tomou medidas extremas.

Para ultrapassar a idade de 100 anos e manter seu corpo saudável, ele toma 150 pílulas diárias de suplementos, dez copos de água alcalina e dez xícaras de chá verde. Toda semana, ingere ainda algumas taças de vinho tinto. Regularmente, consulta um médico e passa por uma bateria de exames. Tudo para preservar sua máquina bioquímica.

Será que é suficiente cuidar da matéria?

Raghava KK é um artista indiano famoso, cartunista respeitado que lida também com pintura, escultura, instalações, filmes e peças de comunicação desenhadas especificamente para tablets e dispositivos móveis.

Para ele, a vida atual também parece curta demais. Assim, em parceria com a mulher, Netra, resolveu estabelecer um plano de vida de 200 anos.

Curiosamente, no entanto, Raghava não ingere medicamentos caros nem se submete a uma dieta alimentar rigorosa.

Seu plano se desenvolve basicamente no campo do desenvolvimento de ideias e gestão de legado.

Em palestras sobre o tema, o artista mostra que os dispositivos tecnológicos digitais estenderam a vida humana também para frente e para trás, ou seja, para o passado e para o futuro.

Podemos, assim, resgatar ideias e feitos de nossos antepassados, antes condenados ao anonimato perpétuo.

Ele conta, por exemplo, da paixão de seu avô pela atriz norte-americana Mae West. Essa admiração, nascida nos anos 1930, permitiu que o impacto de uma vida se estendesse para além do tempo reservado ao funcionamento de um corpo.

Se Mae West era M-A-E, seu neto Keshava ganhou o apelido de K-A-E. O avô de Raghava já morreu, mas seu legado está vivo na maneira como seus descendentes passaram a lidar criativamente com seus nomes.

Raghava hoje tem um plano para gerir organizadamente sua vida e estendê-la por dois séculos, principalmente por meio de sua arte.

Entre seus objetivos, está “zerar” seus traumas e inseguranças de infância, passando aos descendentes uma ideia de estabilidade, harmonia e disposição para lidar positivamente com problemas.

Como ele diz, nossos cérebros não têm uma tecnologia perfeita de armazenamento de memória. Dessa forma, seus conhecimentos e saberes estão sendo criteriosamente transportados para os cérebros eletrônicos.

- Netra e eu realmente queremos usar nosso plano de 200 anos para organizar nosso legado digital – explica o artista.

Raghava quer incluir em sua herança também os eventos que marcaram as vidas de familiares, amigos e colegas de trabalho. Um dos modos é recontar a história indiana a partir de seu ponto de vista, incluindo as impressões do mundo obtidas por meio de sua avó.

Para ele, um legado significante exige educação, o que contextualiza qualquer pessoa no mundo. Segundo o artista, no entanto, essa gestão do futuro também depende de sua criatividade, ou seja, dos modos como deixará registrada sua história.

Ele tem razão. Não fosse a educação, a tecnologia e a criatividade, talvez meu pais fossem esquecidos para sempre. Não serão! Estão citados em meus livros e também em meus artigos armazenados nos arquivos da Internet.

Essa gestão de meu legado permite que eles sejam reconhecidos como lusitanos simples e generosos, exportados para o Brasil como mão de obra excedente.

Como pessoas de valor, trabalharam com afinco no comércio, inventaram meios honestos de ganhar o sustento, criaram os filhos com amor e enviaram para o futuro uma dignidade que chega às novas gerações da família Julio.

Se neste momento você lê sobre eles, é porque estão vivos de alguma forma. É porque souberam, de alguma forma, gerir um legado.

E você, amigo leitor, o que está fazendo para viver seus 200 anos? O que está construindo? O que está transformando? Como está lidando com esta vida que promete ser longa? Como está gerindo a construção de seu legado?

Pense nisso com carinho. É assim que se dá densidade e longevidade a nossa experiência neste mundo.

Afinal, a teoria, na prática, funciona!


Contatos através do e-mail: julio@carlosjulio.com.br
Site: www.carlosjulio.com.br

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