Colunistas
Qual parte do corpo dói mais?
Na minha geração, aprendemos logo cedo. Era o BOLSO. Depois de uma traquinagem ou de uma nota baixa no boletim, a punição mais dolorosa era a privação dos trocados que seriam usados na compra de figurinhas ou na aquisição de um ingresso para o cinema.
No campo das trocas econômicas, esta é a melhor forma de alertar ou punir empresas e organizações que não se pautam pela ética e pela transparência.
Recentemente, a companhia aérea Emirates decidiu que não renovará seu contrato de patrocínio com a FIFA para as Copas do Mundo de 2018 e 2022. A empresa foi patrocinadora do evento em 2006, 2010 e 2014.
A imprensa europeia tem afirmado que a interrupção da parceria se deve aos sucessivos casos de corrupção na entidade máxima do futebol. Os gestores da Emirates teriam decidido poupar a marca de uma “contaminação” de imagem.
A FIFA enfrenta graves denúncias de corrupção no que se refere à escolha das duas próximas sedes dos Mundiais, na Rússia, em 2018, e no Catar, em 2022.
“Quando patrocinadores começarem a se incomodar, a FIFA começará a sentir dor”, declarou recentemente Damian Collins, membro do parlamento britânico.
Dias atrás, alegando uma alteração de estratégia comercial e uma consequente mudança no investimento de marketing, a Sony também decidiu descontinuar sua parceria com a FIFA.
O acordo teve duração de dez anos. O contrato, avaliado em 280 milhões de dólares, expira em 2014.
No Japão, considerou-se que o envolvimento da FIFA em casos de corrupção também contou na decisão dos gestores da empresa. A Sony não quer seu nome atrelado a fraudes, propinas e adulteração de documentos.
Recentemente, a FIFA divulgou um dossiê em que declarava não ter encontrado indícios de corrupção na escolha das duas próximas sedes da Copa do Mundo.
Dias depois, no entanto, o norte-americano Michael García, investigador contratado pela entidade para cuidar do caso, classificou o documento como "incompleto e errôneo".
Dessa forma, a própria FIFA decidiu retroceder e permitir que o caso seja investigado pela justiça comum.
Repetindo o que escrevi recentemente, em um sistema corrupto, perdem os esforçados, os honestos e os talentosos. Ganham os “espertos”, os meliantes e os incompetentes. A vítima é a sociedade como um todo.
Quem recebe propina, por exemplo, pode retirar do circuito competitivo um player capaz e idôneo, elegendo em seu lugar um menos habilitado.
Quem paga propina, em geral, adultera o projeto de investimentos. O dinheiro que irriga o sistema de corrupção é o mesmo que falta em projetos de desenvolvimento, capacitação e inovação.
Cabe aos gestores competentes e íntegros deixar de alimentar esse monstro, responsável por sabotar as boas práticas concorrenciais e importar as estratégias do crime para o ambiente das negociações comerciais.
A melhor receita? Cravar a espada da decência no bolso daqueles que roubam os recursos, oportunidades e direitos da coletividade.
Afinal, a teoria, na prática, funciona!
Contatos através do e-mail: julio@carlosjulio.com.br
Site: www.carlosjulio.com.br
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