Colunista
Quando a qualidade só depende de gente
“Software funcionando”, consultoria, publicidade e propaganda, personal trainer,
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arquitetônico, projeto elétrico, pesquisa de mercado, plano de negócios,
lavanderia, marcenaria, workshop, recepção, projeto de ambiente, curso de
oratória, personal styling, personal paquera, pacote de turismo, hotel para
cachorro, fisioterapia, consulta médica, assessoria financeira, impressão,
encadernação, gravação, filmagem, delivery, clínica 24 horas e milhares de
outras opções, são apenas alguns poucos exemplos que demonstram o crescimento e
a proliferação do mercado de serviços nos quatro cantos do planeta. Um belo e
competitivo mercado, que é um dos mais procurados por pequenos, médios e grandes
empreendedores para realizar seus sonhos ou idéias de negócio. Sejam bem vindos,
ao novo mundo mundo que não dorme nunca!
Como costumamos dizer no Brasil,
o mercado de serviços é a “bola da vez”. E não se sabe o que o sucederá. Avulsos
ou agregados a produtos, os serviços configuram a solução para grande parte das
demandas do novo mercado, globalizado, convergente, “com insônia” para atender a
um novo tipo de consumidor e arquitetado na relação entre a melhor
qualidade e o menor custo possível.
Mas na prática, as empresas em sua
grande maioria, ainda não tiveram sucesso no mais importante atributo deste
mercado: a qualidade do atendimento na prestação dos serviços. E por quê?
Porque diferentemente do comércio de produtos, os serviços precisam dos
relacionamentos para acontecer e tendem a deixar cliente e prestador
frente-a-frente por mais tempo. E se tiver falha, vai dar problema na certa!
Costumo dizer em minhas conferências, que as empresas conseguiram criar marcas
corporativas, diga-se de passagem, grandes marcas. Mas não foram bem sucedidas
em sustentar a qualidade e a equidade na prestação dos serviços. É muito comum,
enquanto clientes ficarmos frustrados diante das situações embaraçosas e
constrangedoras que vivemos perante as falhas deste mercado. E todas elas têm
algo em comum: são originadas no ser humano, no descaso e na falta de
compreensão do que é mais precioso para o cliente. Sei de vários casos, alguns
de amigos e outros próprios, situações que evidenciaram a fragilidade do
componente humano na execução de um serviço. E não estou falando de pequenas
empresas.
Isso vale para empresas de todos os tamanhos, inclusive
algumas multinacionais. Como empresário, também já cometi erros e por isso tive
a grande oportunidade de enxergar o mercado de perspectivas diferentes.
Lembro-me bem, que quando iniciei minha trajetória nos negócios falhei por ter
descuidado do nível de interação com o cliente, que acabou por ter uma percepção
equivocada de minhas reais intenções, mesmo querendo prestar um serviço que eu
considerava de qualidade. O probelma estava aí. Era o que eu considerava.
Agradeço de coração aos caros clientes que reclamaram e fizeram suas
observações, assumindo literalmente o papel dos melhores consultores do mundo
para me ajudar a aprimorar a qualidade dos meus serviços.
Muitos de nós
temos literalmente a sensação de insegurança ao contratar profissionais e
empresas de serviços. Todo mundo já teve um “encanador enrolado” que marcou de
chegar às 10, ligou às 11 e acabou por não vir nunca. Nada contra os
encanadores. É apenas um exemplo alusivo. As múltiplas histórias e experiências
negativas que ouvimos de amigos também nos remetem à desconfiança da qualidade
dos prestadores atuantes no mercado. Recentemente ouvi o caso de uma moça que
contratou uma corretora de investimentos para operar no mercado de capitais. Com
base na fama e na promessa da tal corretora, ela “entrou quente” no negócio, com
grande expectativa. No desenrolar de suas operações, ficou claro que, além de só
receber indicações de investimentos à partir de suas argumentações, os ganhos da
corretora eram priorizados em detrimento dos ganhos de sua cliente. Ela sentiu
falta de proatividade e compromisso com os resultados e isso foi o suficiente
para uma quase recisão do contrato, que só foi recuperado pela intervenção do
diretor da corretora, com a oferta de outro profissional para atendê-la. Falta a
percepção de que vender é ajudar o cliente a tomar a melhor decisão, para ele
(a). E atender no mercado de serviços também.
As empresas estão
prometendo demais, gerando expectativa demais e cumprindo de menos. E isso é
extremamente comprometedor para uma empresa de serviços, talvez pior do que
vender um produto ruim. Neste mercado, qualidade é algo bastante relativo e
muito dependente da interação prestador-cliente. Por definição, os serviços são
produzidos e consumidos no mesmo momento; é a perecibilidade natural do
processo, que se mal gerenciada, pode tornar também perecível o relacionamento
com o cliente. A execução de um serviço é praticamente o equivalente a ter a
produção e o resultado avaliados simultaneamente. E os clientes querem ver o
resultado, mas certamente e inevitavelmente também querem ver a produção, pois
ela faz parte do serviço em si. Outro caso interessante é uma rede de
supermercados presente em todo o mundo, que em uma de suas unidades brasileiras,
mostra total descaso com a qualidade do atendimento, tanto no que se refere à
disponibilidade de profissionais, quanto falhas na logística do pagamento. Erros
básicos na finalização do processo de compra amortizam toda a qualidade
percebida na organização e superioridade dos produtos disponíveis nas gôndolas;
na hora de passar no caixa, um supermercado projetado para atender a uma região
de 6 bairros, só tem dois operadores trabalhando, o que gera filas de espera
insuportáveis. Esse é um clássico exemplo de quando a redução de custo se torna
a redução do lucro, da imagem construída ao longo de anos, e infelizmente a
redução do prestígio e de clientes.
Afirmo que as organizações que
trabalham de alguma forma com os serviços têm dois grandes desafios à frente,
sendo o segundo quase que utópico:
- Preparar as pessoas para uma
prestação de serviço de verdadeira qualidade;
- Criar equidade, ou seja,
minimizar a pessoalidade do atendimento, fazendo com que todos os executores ou
atendentes que ficam face-a-face com o cliente, sejam capazes de gerar a mesma
percepção de qualidade, independente de sua identidade pessoal.
Não adianta
negar; na atualidade, ao contratarmos uma empresa estamos contratando na verdade
a pessoa ou o profissional que irá nos atender. Desculpem-me os mais
corporativistas, mas uma organização sempre foi e sempre será formada por
pessoas. E no caso do mercado de serviços ela será o retrato do prestador ou
atendente. Mesmo quando criança, sempre tive um olhar voltado para o marketing.
Sempre fui muito observador e pude ver muitas empresas falindo por pura
negligência ao poder do mais soberano decisor do futuro das empresas: o cliente,
que como citei no primeiro artigo, quer qualidade, e continuará querendo, cada
vez mais, cada qual à sua maneira. Somente quem atende será o responsável pela
marca deixada por uma empresa e por ser ou não aprovado no teste do cumprimento
das promessas desta marca. E é por isso que temos que investir na consolidação
da qualidade do atendimento, do relacionamento, do cumprimento das promessas e
da superação de expectativas no mercado dos serviços.
Este é o mercado do
hoje e do amanhã e será por muitos anos a âncora de prosperidade das empresas
inteligentes, independente de seu porte. Definitivamente, o mercado de serviços
é o “reino comercial” das relações humanas, da confiança, da pessoalidade, ainda
que corporativa, e merece muito mais atenção por parte dos profissionais que
fazem a gestão e dos que olham nos olhos do cliente, nas jornadas mais curtas ou
mais longas em que trafegamos para entregar, através de nossos serviços, os
sentimentos que no fundo, no fundo, nossos clientes desejam comprar.
Contatos através do e-mail: contato@danielbizon.com.br
Site: www.danielbizon.com.br
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