Colunistas: Tom Coelho
Simuladores
'Se 60% der certo, é uma diferença enorme em relação ao que se fazia antes neste país. Isso nunca foi feito antes.'
(Dilma Rousseff)
Lewis Hamilton, o novo fenômeno da Fórmula 1, tem alcançado êxito e incrível regularidade nas corridas, mesmo sendo sua primeira vez em alguns circuitos. Uma explicação plausível é que ele tem estudado as pistas em um simulador que reproduz com fidelidade o traçado que enfrentará numa prova real.
Com a crise aérea no foco dos noticiários, pudemos observar que pilotos de avião também utilizam simulares de vôo em seus treinamentos.
Existe um jogo de computador lançado anos atrás chamado “Sim City”. Seu objetivo é a construção de cidades, mas bem poderia ser qualificado como um simulador de gestão pública.
O jogador assume o papel de prefeito da cidade virtual. Começa loteando as terras em áreas residenciais, comerciais e industriais. Depois parte para a infra-estrutura de água, luz e saneamento. Constrói escolas, hospitais, delegacias de polícia, corpo de bombeiros, faculdades, bibliotecas, parques. Edifica ruas, viadutos, corredores de ônibus e metrô.
Para sustentar tantas obras, a partida dá-se com uma verba módica, uma espécie de capital inicial que poderíamos chamar de orçamento pré-aprovado. O prefeito determina imediatamente as alíquotas dos impostos, com liberdade para alterá-las a qualquer instante. Também pode editar algumas leis, versão digital das medidas provisórias, que podem gerar receitas ou despesas. Acordos com vizinhos, como importar ou exportar água ou lixo, igualmente afetam as finanças. Por fim, há a possibilidade de buscar empréstimos com taxas de juros tipicamente salgadas e prazos não muito longos para quitação.
Na medida em que as benfeitorias são feitas, a população cresce, e com ela, as demandas e os problemas sociais. Uma nova usina de geração de energia é exigida. A criminalidade aumenta e um presídio precisa ser instalado. O trânsito fica caótico, pedindo auto-estradas e um aeroporto.
Neste dinamismo todo, cabe ao jogador, digo, ao prefeito, enfrentar os problemas e tomar decisões com base nas informações e solicitações de seu secretariado, considerando as necessidades da população e suas disponibilidades de caixa. Assim, você pode elevar drasticamente os impostos. Mas no médio prazo as pessoas abandonarão sua cidade, reduzindo sua receita. Pode também reduzir os investimentos em infra-estrutura ou mesmo cortar salários do funcionalismo, gerando ondas de greves e, por conseguinte, desagradando aos cidadãos.
Recentemente a ministra Dilma Rousseff declarou, por ocasião do balanço das obras do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento, que cumprir 60% do programado já estaria bom demais. Coloquei-me a imaginar o que seria de uma empresa onde apenas 60% das metas fossem cumpridas. Permaneceriam os executivos no cargo? Os acionistas ficariam satisfeitos com seus dividendos, se é que teríamos lucro para ser distribuído? E se os correios entregassem somente 60% das correspondências no prazo previsto e nos endereços indicados? Que tal apenas 60% dos vôos previstos decolando? Ops, isso já acontece há tempos...
Seria bom se nossos gestores públicos jogassem um pouquinho de “Sim City”. Poderia ser nos finais de semana ou nas reuniões no Planalto – não vejo muita diferença. Só tem um detalhe no jogo ainda não revelado. Quando o caixa estoura, uma mensagem equivalente a uma moção pública informa: Você está demitido!
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