Colunistas: Tom Coelho
Para que servem os críticos?
"Só tem o direito de criticar aquele que pretende ajudar."
(Abraham Lincoln)
Sábado, 17 de janeiro, Anhembi, São Paulo. Após 14 anos, Elton John volta ao Brasil para duas apresentações. Eu estava lá.
O show teve início britanicamente às dez da noite e avançou na madrugada de domingo, regado a eventual garoa paulistana. As primeiras canções não empolgaram tanto a plateia, mas quando os principais hits começaram a ser entoados, o público cantou junto e sentiu-se recompensado pelas horas de espera.
Ao término do espetáculo pude notar e ouvir comentários de satisfação de todos os lados. O ídolo pop demonstrou carisma e entregou aos presentes exatamente o que queriam e que era possível oferecer ao longo de mais de duas horas.
No dia seguinte surpreendo-me com críticas nos jornais qualificando a atração como “medíocre e previsível”. Segundo os comentaristas, a “fase mais criativa” do cantor deixou de ser explorada. Quem leu estas opiniões e não esteve no show pode até ter se sentido aliviado por não ter comparecido. Mas quem as leu e participou da apresentação deve ter ficado com a impressão de que o crítico não foi ao mesmo espetáculo...
Eventos musicais, em sua maioria, são apreciados quando desfilam composições consagradas, convidando a interagir, incentivando a acompanhar o vocalista a cada refrão e estimulando a dançar a cada acorde. Claro que há ocasiões, em especial no lançamento de novos trabalhos, nas quais a plateia marca presença preparada para ouvir o novo, desfrutando do talento criativo de seu artista.
Definitivamente, não era este o caso na noite do último sábado.
Mas, afinal, o querem os críticos? Ou melhor, qual a função do trabalho que exercem? Para um artista, seja ator, cantor, compositor, escritor etc., lembro-me de Santo Agostinho que dizia: “Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem”. Em outras palavras, a crítica sincera, honesta, que aponta caminhos assertivamente, é benéfica e essencial. Favorece a reflexão, age como antídoto para a prepotência e a arrogância. Não apequena, mas eleva.
Entretanto, com olhos voltados para o público, gostaria que os críticos produzissem textos capazes de captar e retratar as emoções em lugar de tentar impor uma retórica pessoal, uma estética pasteurizada e uma verdade absoluta de quem parece ansioso por mostrar-se altivo e “formador de opiniões”.
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