Colunistas: Wagner Campos
E se o Brasil fosse uma empresa?
O objetivo das organizações é gerar resultados, desenvolver-se, obter lucros aos seus acionistas, prospectar novos mercados e se necessário, realizar fusões.
A busca pelo profissionalismo, aperfeiçoamento, treinamento de equipes, análises de mercados, análises de custo benefício, redução de custos, atualização tecnológica entre outros, são condições levadas a sério diariamente pelas empresas, para poderem assim se desenvolver de maneira saudável e constante.
Essas atitudes fazem com que as empresas invistam nas ações estratégicas mais adequadas, contratem, demitam, enxuguem o quadro de profissionais, se desfaçam de ativos imobilizados desnecessários, terceirizem, importem, exportem. Como todas as estratégias que venham a ser desenvolvidas serão realizadas por pessoas, investem em um plano de carreira e benefícios com análise de habilidades e competências, méritos, responsabilidades, através de entrevistas, desenvolvem projetos, feed backs e outras dezenas de metodologias de análises necessárias para manter os bons profissionais dentro da equipe, motivados, comprometidos, gerando resultados e não perdê-los para os concorrentes.
O Brasil é um Estado e seus líderes responsáveis pelas decisões estratégicas e de desenvolvimento são escolhidos por voto e indicações. Apenas quem irá executar trabalhos administrativos precisa passar por concursos para poder assim ser selecionado por conhecimento e não necessariamente habilidades.
Para que possamos chegar a uma Presidência de empresa no país, hoje, na maioria das vezes é necessário possuir curso superior e no mínimo um MBA, além de experiência de 10 anos em empresas relevantes, falar fluentemente 3 idiomas, grandes resultados obtidos em outras organizações, projetos de destaque e a experiência internacional muitas vezes é obrigatória. No entanto, para representar a Presidência do Brasil, basta ter idade superior a 35 anos, possuir título de eleitor, ser alfabetizado (partindo-se do princípio que para ter o título é necessário ser alfabetizado) e nunca ter sido condenado (ufa!).
Como toda organização empresarial que se preze, além de um Presidente precisa ter Diretores, Gerentes, Supervisores, Coordenadores, Auxiliares e outros profissionais que colaboram para o andamento e realização das estratégias, em busca dos resultados almejados. A união de todos esses profissionais é demonstrada na pirâmide: quem é responsável pelo planejamento estratégico, planejamento tático e planejamento operacional. O Planejamento Estratégico envolve toda a organização, mas está sob responsabilidade da diretoria; o Planejamento Tático é elaborado pelo nível intermediário (gerencial), e o Operacional, ligado a ações específicas, implementado em curto prazo, por indivíduos ou pequenos grupos funcionais (demais colaboradores).
Os candidatos a Diretores (que muitas vezes formam um Conselho) em uma empresa, em grande parte das vezes precisam ter experiências e habilidades semelhantes ao Presidente. Já os Gerentes, dependendo se for Gerente Geral ou de um departamento específico (Gerente Administrativo, por exemplo) precisam ter em média o curso superior, (especialização será bem vinda), falar ao menos mais um idioma fluentemente e apresentar uma experiência aproximada de 5 anos.
Já os atuais 81 Senadores (que representam o Estado, e por este motivo são escolhidos 3 Senadores por Estado, independentemente da população existente) e 513 Deputados Estaduais e Federais (que representam a sociedade), também são escolhidos por voto. Para se candidatar a Senador a exigência é a mesma que para Presidente. Já para Deputado, é necessário apenas ter idade superior a 21 anos, além de também possuir o título de eleitor e nunca ter sido condenado.
Assim, podemos entender que os responsáveis pelo Planejamento Estratégico do Brasil seriam os Senadores e Ministros (Conselho) juntamente com o Presidente; os Deputados, pelo Planejamento Tático (gerencial) e os Governadores, Prefeitos, Vereadores e demais cargos políticos seriam responsáveis pelo Planejamento Operacional.
Agora, buscando uma rápida analogia entre o Brasil e uma empresa, será evitado um desmembramento muito detalhado, pois jamais seria possível inserir dentro de uma empresa, tantos departamentos, cargos e setores, quanto os que são criados dentro de um Estado, neste caso, em particular, em nosso país.
Primeiramente, é fato notório que ser político é um grande negócio. Não precisa ter experiência, muito menos saber administrar, lidar com pessoas, “bater cartão”. Não há metas a cumprir. Se a “empresa” quebrar ele tem normalmente 4 anos de estabilidade, pode se afastar com freqüência e não se preocupa com sua imagem, pois com tantas situações ilícitas e escandalosas que ocorrem constantemente, seu erro será esquecido rapidamente. Seus salários não são atrasados, inclusive, muitas vezes tem o poder de reajustá-los por livre e espontânea vontade. Ninguém sabe exatamente o que os políticos estão realizando (muitos deles também não sabem o que estão fazendo), alguns se preocupam com o lay out da sala, outros com as roupas, com a quantidade de açúcar no café, e os menos entrosados com os anteriores trabalham.
O “departamento” responsável pela Educação não tem colhido bons resultados nos últimos anos e ainda corta investimentos, não desenvolve planos de carreiras para professores, não investe em estrutura e materiais. Em vez disso, cria mais campanhas assistencialistas onde incentiva alunos a irem à escola em troca de uma cesta básica ou algo semelhante. Desta forma o foco é “matar a fome” e não criar cultura e desenvolvimento em busca de melhoria na qualidade de vida. E o incrível é que ainda assim houve uma redução do ano de 2006 para 2007 de 1.930.522 matrículas entre o ensino médio e fundamental. Enquanto politicamente falando, talvez a falta de cultura seja necessária para uma eleição garantida.
Em uma empresa o departamento de Recursos Humanos seria responsável pelas contratações e treinamentos. A falta de treinamento aos colaboradores proporcionará perdas, desperdícios, retrabalhos, quebras de equipamentos, acidentes de trabalho, absenteísmo e desmotivação. Percebemos que há uma grande similaridade entre empresa e Estado. Em uma empresa, seriam verificados os problemas existentes, perfil dos colaboradores, qualificação, plano de cargos e salários de acordo com qualificações, levantamento de habilidades e competências, materiais disponíveis e aproveitamento do tempo e recursos necessários para um melhor resultado.
O “departamento” responsável pela saúde anda enfermo há tempos. Faltam médicos, hospitais, postos de saúde, as verbas chegam atrasadas, os poucos médicos existentes no setor público faltam e as consultas ou atendimentos são agendados em longo prazo, deixando a população morrer enquanto espera. Em uma empresa, dependendo do segmento, a simples falta de um ambulatório ou CIPA poderá gerar multas e até impedimento de funcionamento. As empresas investem na estrutura, contratam profissionais qualificados para garantir a segurança e a saúde de seus funcionários. Algumas empresas, como a Petrobrás, por exemplo, doam quantidades expressivas de recursos financeiros a Entidades como a Santa Casa, para que esta tenha condições de investir em equipamentos necessários para dar um bom atendimento a população e também a seus funcionários, o que é muito bem vindo, uma vez que os órgãos responsáveis não suprem esta necessidade.
Os “departamentos” jurídicos (vamos somar aqui legislativo e executivo) se perdem na criação de milhares de leis que não conseguem executar. Há mais de 181 mil leis no Brasil. Ives Granda Martins Filho, Ministro do afirmou que um total de 500 a 1000 leis seria o suficiente para administrar um país, porém, são criadas novas leis diariamente, na maioria das vezes, sempre beneficiando um número pequeno de pessoas, politicamente protegidas. Uma organização empresarial precisa ter suas normas e regulamentos, porém, seria caótico possuir, por exemplo, 100 normas. Pior ainda se criassem centenas de normas que estreitassem demasiadamente o departamento comercial, cobrança, financeiro, de marketing etc. Com toda a certeza a empresa ficaria estagnada e os departamentos seriam desnecessários.
O “departamento” financeiro precisa ter seu setor de contas a pagar e receber. Na empresa as vendas de produtos ou serviços geram os recursos para liquidar as despesas realizadas, os investimentos, folha de pagamento entre outros. O país precisa obter recursos através de seus impostos e taxas. Assim, o Estado retém em média 40% de impostos de cada cidadão e empresa brasileira, para honrar seus compromissos. Em uma empresa, o departamento financeiro trabalha com previsões realizadas no ano anterior, junto ao departamento comercial e de marketing, ajusta seus recursos com base nas previsões estipuladas e caso surja algum imprevisto, luta incansavelmente pela redução de gastos, aproximação dos resultados, otimização de tempo e readequação das estratégias do ano vigente. Se um dos departamentos não cumpre o previsto, os responsáveis passarão, com certeza, por uma dolorosa reunião, que em muitos casos gera demissão ou realocação de pessoas dentro da organização. Diferentemente do Estado, uma empresa não pode “enfiar goela abaixo” um preço ou produto para seus clientes. Precisa conquistá-los, obter sua aprovação e caso não gostem, trocam de produto ou serviço, indo para os concorrentes e assim, comprometendo o resultado financeiro da empresa.
O “departamento” comercial do país precisa buscar parceiros globais, trazer empresas, fechar bons acordos comerciais com outros países, além de proporcionar condições que favoreçam o crescimento da economia nacional, através da geração de empregos e consumo. No entanto, são doados milhares de dólares para países vizinhos sem qualquer vínculo produtivo para o Brasil, há apoio político a países negativamente visíveis no exterior. Isso acaba refletindo na imagem do Brasil perante os demais países, pois como diz o velho ditado: “diga-me com quem andas que direi quem és”.
O departamento comercial de uma empresa anda juntamente com o departamento de marketing. Procuram compreender seus clientes, analisam o mercado, desenvolvem estratégia, lançam produtos que causem interesse, comodidade e realização. Agregam valor ao produto ou serviço, atualizam constantemente os modelos, procurando atuar no mesmo ritmo que o mercado mundial, afinal, a globalização posicionou o mercado de maneira tão competitiva que se as empresas nacionais não seguirem o mesmo ritmo, as empresas estrangeiras retaliarão as nacionais pois terão mais tecnologia, menores custos, mais qualidade e inovações.
Recentemente foi publicado o resultado do PISA, onde 57 países participaram realizando testes de Leitura, Matemática e Ciências entre jovens de 15 anos de idade. Mais uma vez, o Brasil ficou entre os últimos colocados em todos os testes. Houve quem afirmou (inclusive alguns eram ministros) que a classificação não seria tão trágica assim, afinal nossa educação estava sendo comparada aos países europeus e por isso deveria ser aceitável tal classificação, pois no conceito destes deveríamos ser comparados com países da América do Sul apenas.
Fazemos parte de um dos maiores países do mundo, beneficiado por excelente localização geográfica, rico em terras produtivas, recursos minerais, população heterogênea, com mescla maravilhosa de culturas européia, saxônia, oriental e africana. Há uma grande preocupação em sermos “supremos” no futebol, os únicos, mas falta o cuidado e preocupação em desenvolver nosso país.
Se o Brasil perde um jogo ou copa do mundo, reclamamos dos jogadores, do goleiro, do técnico e até do gandula, se vacilar. Porém, quando nosso amado país vai mal na educação, saúde, desenvolvimento, PIB per capita, geração de empregos, violência, entre outros, nós o comparamos com os piores, insinuando que entre os piores estamos melhores. É uma infeliz inversão de valores. Excesso de orgulho em um esporte e descaso com a ética, moral e desenvolvimento do país.
Uma vez que devemos ser os melhores no futebol, superando os europeus, porque na educação, saúde, tecnologia, desenvolvimento, precisamos ser comparados de forma inversa? Uma empresa se satisfaz ganhando apenas um mercado e segmento e desiste de tentar conquistar outros segmentos que ainda não domina? Deixa de investir em tecnologia para investir apenas em fachada? Sem resultados não obtém desenvolvimento. Sem desenvolvimento não obtém recursos. Sem recursos não consegue sobreviver de forma competitiva no mercado global.
Não se trata apenas de um país com problemas e sim de pessoas despreparadas que administram um Estado através de um “voto de confiança” de milhares de pessoas. A responsabilidade é de quem governa e é governado, mas se quem realiza seu voto tem seus valores pessoais limitados a uma simples sobrevivência, sem saúde, educação e cultura, sua escolha terá a mesma qualidade: miséria – miséria política.
Uma empresa jamais conseguiria se manter em funcionamento sem profissionais qualificados em todos os níveis para realizar cada um sua tarefa, dar sugestões e desenvolver novas estratégias. Não poderia simplesmente inserir milhares de colaboradores com salários além do piso, para realizarem tarefas em que 1% desse mesmo quadro de funcionários poderia fazer, desde que tivesse recursos, treinamento e tecnologia. O foco não é a quantidade, mas a qualidade e o resultado.
Se uma empresa não acompanha a tendência do mercado logo perde seus colaboradores, reduz as vendas, minimiza os recursos e poderá ser fechada ou comprada pelos concorrentes que crescem e investem constantemente. Pode até ser que um país não feche suas portas, mas com certeza acabará abrindo-as para outros países governarem indiretamente, em troca de favores ocultos realizados ano a ano.
Devemos então, fazer nosso papel escolhendo bem quem realizará o Planejamento Estratégico e Tático de nosso país, pois com o Planejamento Operacional já nos comprometemos todos os dias. É, na verdade, tudo uma questão de escolha, literalmente!
Contatos através do e-mail: wagner@terra.com.br
Site: www.trueconsultoria.com.br
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