Embora tenha lançado um aplicativo de moda reunindo estilistas brasileiros no ano passado, o gigante americano eBay estava praticamente fora da briga do e-commerce no Brasil. Com a versão do site em português disponível desde ontem, a empresa, que movimentou mais de US$ 200 bilhões em 2013, vai tentar conquistar um espaço relevante na preferência do consumidor brasileiro, aproveitando a presença tímida de seu principal concorrente no mundo, a Amazon, por aqui.
Segundo especialistas no setor, o "novato" terá de se estabelecer em um mercado bastante concentrado. Apesar de o País reunir cerca de 20 mil sites legalizados de comércio eletrônico, cerca de 80% do faturamento - que somou R$ 28,8 bilhões em 2013 - está nas mãos de apenas 50 lojas virtuais. Somente a B2W (dona de marcas como Submarino e Americanas.com) registrou receita de quase R$ 7 bilhões em 2013.
Para se mostrar atraente ao consumidor brasileiro, o eBay está apostando em uma grande variedade de ofertas, especialmente de fornecedores internacionais. Segundo Wendy Jones, vice-presidente de expansão global do eBay, o site em português estreará com 250 milhões de itens, o equivalente à metade dos anúncios disponíveis em mercados mais maduros para a marca, como o americano.
O site em português já estava no ar ontem à tarde, mas a navegação ainda apresentava alguns problemas. Embora os preços na tela principal aparecessem descritos em reais, o cliente via os valores "transformados" em dólares ao adicioná-lo ao carrinho para finalizar a aquisição. A executiva do eBay acredita que os problemas estejam resolvidos nos próximos dias.
De acordo com a e-bit, empresa que compila dados sobre o comércio eletrônico, o eBay já é o site estrangeiro mais visitado no País, à frente de marcas como Amazon e AliExpress. Hoje, o eBay estima que cerca de 1 milhão de brasileiros já tenham feito compras em sua plataforma. Deste total, cerca de 500 mil se tornaram clientes da marca no ano passado. Os segmentos de moda, acessórios e eletroeletrônicos concentram a maior parte das operações.
Na opinião de Pedro Guasti, diretor executivo da e-bit, o eBay deverá disputar o cliente brasileiro tanto no crescente nicho de compras no exterior quanto no mercado de marcas tradicionais, como Buscapé e Mercado Livre - o eBay já é sócio deste último, com cerca de 20% do capital.
Hoje, compras feitas no exterior de até US$ 50 não pagam imposto de importação. O diretor da e-bit diz que, por enquanto, a Receita Federal está fiscalizando as compras por amostragem, o que aumenta a chance de pacotes de maior valor também ficarem livres da tributação. Guasti diz que isso deverá mudar no segundo semestre: uma parceria entre a Receita e os Correios deverá instituir a checagem de todos os itens.
Para se firmar no País, especialistas dizem que o eBay precisará fazer um trabalho pesado de marketing - algo que, segundo Wendy Jones, não está nos planos imediatos da marca. "Acho que a classe média emergente não sabe direito o que é o eBay. A marca é mais conhecida por aqueles que têm familiaridade maior com as compras pela internet", afirma Luiz Goes, sócio sênior da consultoria GS&MD - Gouvêa de Souza.
Nichos. Apesar do domínio de B2W, Walmart e Nova Pontocom (que reúne Extra, Casas Bahia e Ponto Frio) nas vendas de produtos de grande volume, o diretor executivo do Ibope e-Commerce, Alexandre Crivelaro, vê uma tendência de uma maior procura por ofertas de nicho na web. Esses produtos geralmente vêm de vendedores de pequeno porte, que precisam de sites como eBay, Mercado Livre e AliExpress para atingir uma clientela relevante.
Ao agrupar um grande número de fornecedores, esses sites conseguem "segurar" o cliente por mais tempo em suas plataformas. "A permanência num site como o eBay é de oito a dez vezes mais alta (do que a de empresas de e-commerce tradicionais)", afirma Crivelaro.
Fonte: Estadão
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