Ana Paula Barcena passou 11 de seus 37 anos trabalhando no departamento comercial de uma empresa de limpeza de São Paulo. Ela era responsável por vender os serviços da companhia e ouvir o feedback dos clientes. "Eu passava o dia conversando com eles e fazia questão de perguntar do que mais gostavam, o que achavam ruim."
Com o tempo, a paulista acumulou uma lista de aspectos positivos e negativos sobre o trabalho feito pela empresa. "Percebi que as duas maiores reclamações eram a qualidade do serviço prestado, que deixava a desejar em muitos casos, e o fato de os produtos usados não serem ecológicos."
Munida com essas informações, em meados de 2008, Ana Paula começou a pensar na possibilidade de abrir uma empresa que conseguisse sanar os principais problemas apontados pelos consumidores. Mas havia algumas coisas a se considerar para tomar aquela decisão.
Para começar, os pais da paulista dependiam dela financeiramente. "Eu não terminei a faculdade e sabia que aquele emprego era uma segurança. Não queria que eles sofressem caso a minha ideia desse errado." Além disso, o dinheiro que ela tinha guardado na poupança não era o que ela imaginava suficiente para fazer o investimento inicial de um negócio.
A coragem para virar empreendedora só veio em 2009, com um convite de trabalho. A empresa concorrente da que Ana Paula trabalhava queria contratá-la, por um salário maior. "Quando me vi sendo disputada por duas companhias, percebi que eu tinha a capacidade de fazer o meu próprio negócio dar certo."
Antes de pedir demissão, a paulista decidiu testar a ideia. Com R$ 500, ela comprou produtos de limpeza ecológicos e deu entrada na lavadora extratora (usada para limpar pisos, carpetes e estofados), parcelando a perder de vista. Parte desse valor foi usada também para divulgar o serviço em uma revista do bairro em que morava.
No começo, foi preciso criar um sistema logístico eficiente para fazer o negócio funcionar. Os primeiros clientes ligavam na casa de Ana Paula. A mãe fazia o pré-atendimento e, em seguida, ligava no celular da filha para avisar. Ela atendia às chamadas no banheiro da empresa. "Anotava os endereços no papel toalha mesmo".
Então, no final de semana, a paulista, seu irmão e uma amiga iam à casa indicada fazer o serviço. Logo nos cinco primeiros atendimentos, eles conseguiram pagar o valor total da lavadora extratora e comprar um Uno usado para fazer o transporte. O trabalho era bem pesado para três pessoas: limpar carpetes enormes, quintais de mansões, sofás, estofados. "Mas eu tinha tanta vontade de fazer aquilo dar certo que nem ligava para as unhas que se estragavam ou com o cabelo bagunçado."
Logo nos primeiros 15 dias de trabalho, Ana Paula começou a ver o retorno de seus esforços. "Meu salário base de vendedora era de R$ 1 mil. Consegui dobrar isso nas duas primeiras semanas oferecendo serviço de limpeza. Esse era o dado que eu precisava para tomar coragem e pedir demissão." Contra a vontade dos pais, ela saiu do mundo corporativo e fundou a Natureza & Limpeza, em 2009 mesmo.
Com os serviços que ia fazendo, a empreendedora foi conseguindo pagar novos equipamentos e aumentar a equipe. "Fomos crescendo no boca a boca e com anúncios em revistas de bairro", afirma. Em 2012, Ana Paula chamou uma antiga amiga do colégio para se tornar sua sócia. Renata Vidal, de 34 anos, era pedagoga e queria sair da carreira de professora havia alguns anos. "Sempre quis ser empreendedora e ofereci minha ajuda com as finanças", diz Renata. Sua entrada no negócio garantiu a estruturação de um departamento financeiro na empresa.
Com o caixa organizado, a Natureza & Limpeza pôde se preparar para investir mais em publicidade. "Anunciamos muito na internet: no Google, na OLX, no Bomnegócio", diz a nova sócia. Em resposta, a empresa cresceu 40% em um ano - e hoje já conta com 10 funcionários e faturou R$ 500 mil em 2013. Entre seus 50 clientes fixos, estão grandes companhias, como Itaú e Bosh.
O próximo plano das empreendedoras é crescer por meio de franquias. "Estamos estruturando para oferecer algo inexistente no mercado e de muita qualidade", diz Ana Paula.
A expansão do negócio, até agora, já mudou um bocado a vida da empreendedora. Com o que ganha com a empresa, ela conseguiu comprar uma casa para os pais, um carro próprio e se prepara para dar entrada em um apartamento, seu grande sonho. "O mais recompensador foi ver a minha mãe, que chorou muito quando eu larguei o emprego, bastante orgulhosa de mim e do que eu conquistei."
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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