Pedir demissão do emprego parecia uma decisão impossível para Erica Hoeveler e Cinthia Gaban, de 30 e 29 anos. Elas eram trainees com um futuro promissor no banco HSBC, mas já havia algum tempo que o sonho das duas estava longe das salas da instituição. Depois do expediente, abriam os computadores em casa para se dedicar ao projeto "Professores de Plantão", uma plataforma de aulas online para estudantes pré-universitários e universitários.
Depois de oito meses nessa dupla jornada, as sócias se inscreveram no processo de seleção da aceleradora de startups da Telefônica, a Wayra. Acabaram sendo aprovadas. Havia chegado a hora de tomar uma decisão: manter o emprego certo em uma grande empresa ou focar de vez no negócio. “Nessas horas, começa a passar um filme na sua cabeça, mostrando tudo o que você viveu para ficar de frente àquela decisão difícil”, diz Erica.
A ideia da Professores de Plantão veio em 2010, durante os estudos de Cinthia para uma prova no próprio HSBC. Formada em administração pela FGV, ela estava tentando encontrar a solução para um exercício, quando resolveu buscar ajuda no Google. Digitou “professores online”, mas tudo o que encontrou foi o contato de professores particulares que pediam agendamento de horário. No dia seguinte, contou para a amiga Erica, que é engenheira elétrica: havia encontrado uma oportunidade de negócio.
Foi quando começou a rotina de duplo expediente das duas. No início, elas apenas pesquisavam o setor: falaram com professores, estudantes, especialistas e escolas para descobrir como era o mercado de aulas particulares e suas especificidades. “Vimos que existia uma necessidade muito grande dos estudantes de ter um serviço tão prático ao dispor de um clique”, diz Erica.
No final de 2011, investiram R$ 20 mil de suas próprias economias para criar um site. Mas, como nenhuma das duas entendia de programação, a primeira tentativa não foi muito eficiente. “As pessoas não conseguiam navegar no portal.” Nessa mesma época, elas foram selecionadas pela Wayra. “Nós tínhamos apenas um site inacabado e uma apresentação. A aprovação mostrou que nossa ideia era boa e que poderia dar certo.”
A aceleração começaria dali a seis meses. Era o tempo que teriam para organizar suas vidas antes de virarem, de vez, empreendedoras. Erica foi a primeira a pedir demissão do HSBC. Três meses depois, foi a vez de Cinthia. “Tomamos essa decisão com frio na barriga. Nosso medo era a empresa dar errado e não conseguirmos voltar para o mercado de trabalho depois.” Mas, em pouco tempo, essa ideia já começou a parecer boba para as duas.
A Professores de Plantão recebeu R$ 100 mil da Wayra, onde ficou de junho de 2012 a agosto de 2013. Lá, as sócias mudaram todo o modelo de negócios, fizeram cursos de especialização, firmaram parcerias com universidades e cursinhos preparatórios e encontraram contatos importantes no meio educacional. De repente, se viram envolvidas em áreas que nunca teriam tido contato enquanto trabalhassem em um banco. “Começamos a entender de tudo um pouco, de programação de sites a marketing”, diz Erica.
O esforço e a coragem das empreendedoras renderam bons frutos: em outubro de 2012, elas lançaram a versão completa da plataforma – que hoje já reúne 4 mil professores e 10 mil alunos cadastrados. Desde que saíram da Wayra, elas conseguiram captar ainda R$ 400 mil de investidores-anjo.
Para esse próximo ano, Erica e Cinthia pretendem conseguir mais R$ 3 milhões em investimentos – que irão para o marketing e para criar um serviço mobile da Professores de Plantão – e fechar mais parcerias com instituições de ensino. Olhando para trás, hoje, as duas dizem não se arrepender de terem trocado as certezas do meio corporativo pela vida de empreendedor. “Hoje, estou muito mais experiente e aprendendo muito mais do que estaria se continuasse no banco”, diz Erica. “Mesmo parecendo errado, foi o caminho certo a seguir”.
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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