A cabeleireira Gislaine Marcandali, de 55 anos, carrega nas mãos a prova de que cabe tudo dentro da bolsa de uma mulher. Fora carteira, celular e chaves de casa, lá dentro estão escova, secador, xampu, condicionador, cremes e tesoura. Ter um salão portátil à disposição foi a maneira que ela encontrou de faturar mais com seu trabalho. "Eu cobro duas vezes mais quando atendo a cliente em casa", diz. Até pouco tempo atrás, o único item que ficava para trás era o lavatório de cabelos. Foi assim até a paulistana fundar a fabricante de tanques portáteis Dublê. No ano passado, o negócio faturou R$ 23 mil.
A ideia de inventar um tanque portátil veio em 2007. O objetivo era resolver problemas que faziam parte da rotina de Gislaine. É que as clientes que a cabeleireira atendia tinham de lavar seus cabelos na pia, no chuveiro e até no tanque de casa. "Era muito incômodo para elas e eu comecei a pensar em como poderia resolver o desafio", diz. Foi quando ela pensou em tornar o mecanismo portátil.
Gislaine procurou o Sebrae para contar sobre sua ideia e foi apresentada a um técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Juntos, os dois começaram a desenvolver um protótipo. Depois de 16 horas, o produto viável estava montado e a cabeleireira foi orientada a patentear sua invenção.
O lavatório portátil possui duas rodas e pode ser desmontado em três partes para facilitar o transporte. Como não é ligado a nenhum sistema de encanamento, basta colocar na tomada para começar a usar. Com essa ideia, Gislaine foi uma das finalistas do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, em 2013. "Fiquei muito feliz com o reconhecimento, mas foi um caminho difícil até lá."
Gislaine chegou a dever R$ 17 mil para conseguir divulgar sua invenção. Em abril de 2008, logo depois de começar a produzir as primeiras unidades dos lavatórios portáteis, a empresária fez sua inscrição para participar do Hair Brasil, uma das principais feiras de beleza do país.
Ela, então, pegou o dinheiro emprestado no banco para pagar a taxa de inscrição, a montagem do estande, cursos de capacitação para sua filha e sua mãe (que ficaram com a função de explicar sobre a invenção a quem passasse por lá) e alimentação. "Quando a feira terminou, eu praticamente não tinha dinheiro no banco."
A cabeleireira esperava que o retorno do investimento viesse quando as pessoas começassem a comprar o produto. Mas não foi exatamente o que aconteceu. "Continuei vendendo o mesmo que no começo, cerca de duas unidades por mês." Se não houve uma resposta financeira, a feira pelo menos serviu para pesquisar a opinião de cabeleireiros e donos de salões sobre a ideia. "Percebi que as pessoas ficavam encantadas com a inovação, mas achavam que o design e a estrutura ainda não estavam bons."
É que os primeiros lavatórios produzidos pela Dublê eram feitos de fibra de vidro. Apesar de o material ser barato, não era resistente e acabava rachando depois do uso e causando vazamentos. "Já tive de fazer várias viagens para prestar assistência a consumidores por causa disso", diz Gislaine. Ela decidiu, então, focar na melhora do produto.
De volta ao IPT, a empresária e os consultores do instituto passaram a projetar a invenção em aço inox. Além disso, trocaram vários itens por outros de melhor qualidade. Logo que os novos produtos ficaram prontos, em 2011, as vendas da Dublê aumentaram. "Passei a vender 10 unidades por mês."
Gislaine largou o trabalho de cabeleireira e passou a se dedicar apenas à empresa. Hoje, ela sonha em aumentar o negócio e deixá-lo de herança aos dois filhos. "Quero ter um chão de fábrica, produção industrial e deixar tudo isso como um legado".
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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