Coco, leite condensado e açúcar. A receita que Maria Helenice Guerra, 49 anos, mais gosta de preparar tem apenas três ingredientes, mas faz um sucesso danado na família desde quando era menina. Sua avó, Dona Maria José, quem lhe ensinou. Mal sabia a senhora, na época, que estaria garantindo o sustento da neta dali a alguns anos. Foi com a receita da cocada de leite que Helenice fundou a Doceria Diamante, em 2011.
O negócio começou a funcionar no quintal da casa da empreendedora, no bairro Santo Amaro, em São Paulo. Com o tempo, conquistou clientes, expandiu o cardápio e conseguiu seu próprio ponto de comércio na mesma região. Apesar de a receita da cocada ter sido fundamental na empreitada, boa parte do crescimento da Doceria Diamante veio com uma ajuda externa. Helenice foi uma das mulheres selecionadas para participar do programa do Instituto Consulado da Mulher, uma iniciativa da fabricante de eletrodomésticos Consul para capacitar microempreendedoras de Rio Claro (SP), Joinville (SC), Manaus (AM) e São Paulo. "Eles deram os ingredientes que estavam faltando", diz a cozinheira.
Criado em 2002, o instituto já auxiliou 10 mil mulheres de comunidades carentes a desenvolver suas empresas. Além de levar consultores aos negócios participantes, o programa também doa eletrodomésticos que podem ajudar na produção. "É o que chamamos de andar de mãos dadas. Queremos treinar, capacitar e investir nessas empresárias", diz Erica Zanotti, coordenadora de desenvolvimento do Instituto Consulado da Mulher.
Para participar do projeto, é necessário que a empreendedora atue nas áreas de alimentação ou lavanderia - e que tenha muita vontade de crescer. O processo de assessoria é longo: dura de dois a três anos, dependendo da evolução do negócio. "Sabemos que mudanças levam tempo, por isso precisamos ficar por perto dessas mulheres durante um período relativamente grande", diz Erica.
A Doceria Diamante, por exemplo, recebeu um fogão, uma geladeira e visitas recorrentes de especialistas para ajudar nos negócios durante três anos. A ideia desses encontros é identificar os pontos fracos da empresa e ajudar a melhorá-los. Para isso, o instituto treina os consultores para que eles transmitam as lições de maneira bastante acessível. Segundo Erica, muitas das mulheres que atendemos não completaram o ensino fundamental. "Por isso, adaptamos conceitos complexos de administração à realidade delas, com explicações simples e práticas."
Uma das lições aprendidas por Helenice - e que ela promete nunca esquecer é a preocupação com a apresentação dos produtos. "Usávamos muitas sacolas, umas cafeteiras antigas e feias. Aprendi que era importante me preocupar com a imagem", diz a empreendedora. Com as mudanças, o negócio passou a faturar até R$ 6 mil por mês.
Além dessa ajuda, o instituto também criou uma rede de lanchonetes chamada Espaço Solidário nas cinco unidades da Whirlpool (dona da Consul no Brasil). Todos os alimentos vendidos nessas lanchonetes são produzidos pelas empreendedoras do programa, mas não há cobrança de aluguel. Só nesses estabelecimentos, o trabalho das mulheres gera uma renda mensal de R$ 1.125 a cada uma.
Com os Espaços Solidários, a demanda aumentou muito. Por isso, as empreendedoras decidiram formar um grupo para fabricar lanches e doces. A primeira iniciativa da equipe foi montar carrinhos com todos os quitutes para vender nos andares dos prédios da Whirlpool. "Muita gente não tem tempo de descer até a lanchonete, então elas mesmas deram essa ideia", diz Erica. A empreitada deu tão certo que ficou popular no mundo corporativo.
Hoje, outras duas empresas adotaram os carrinhos das empreendedoras: a assessoria de imprensa In Press Porter Novelli e a fabricante de bebidas Bacardi. "É muito bom ver uma ideia que começou tão pequena crescer assim. Hoje eu trabalho 8 horas todos os dias. Consegui trocar de carro e reformar minha casa. Foi uma mudança muito boa."
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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