Uma das coisas que incomodavam Marc Freedman era ver milhares, milhões de norte-americanos aposentando seu conhecimento quando paravam de trabalhar. Será que o conhecimento técnico e a sabedoria de vida acumulada ao longo de décadas tinham prazo de validade? Paradoxalmente, para muitos desses americanos, a aposentadoria trazia um vazio que até então era preenchido pelo senso de utilidade. Eles começavam a se sentir “velhos” porque achavam que estavam perdendo seu valor.
Pensando neste desafio, ele fundou a Encore.org, organização americana que ajuda pessoas a combinar significado pessoal, renda adicional e impacto social em sua segunda metade da vida. Entre as várias iniciativas, a Encore incentiva o trabalho voluntário com crianças carentes, já que várias pesquisas indicam a importância de referências para a formação desses meninos e meninas. Também aconselha que os aposentados se tornem mentores, consultores ou mesmo funcionários de empresas nascentes.
Os “cabelos brancos” podem ser úteis em diversas frentes. Eles podem trazer conhecimento de assuntos específicos, acesso a redes de relacionamentos, mais disciplina na gestão e até mesmo credibilidade, já que ainda pode haver certo preconceito com empreendedores “muito jovens”. Além disso, a Encore ajuda aqueles que querem montar seus negócios. Em todas essas frentes, incentiva o aposentado a se tornar empreendedor de si mesmo, sem perder o lado bom da aposentadoria – como ter mais tempo para ficar com a família, viajar ou praticar um hobby.
Como a Encore não atua no Brasil, aqui vão algumas sugestões para os aposentados que querem empreender.
1. Torne-se mentor de uma startup
Você tem conhecimento técnico e/ou de gestão e uma rede de relacionamento que pode ser muito útil para uma empresa nascente. Escolha ajudar empreendedores que tenham grandes propósitos alinhados aos seus. Faça a escolha pelo problema que a empresa resolve. Quanto maior a dificuldade, maior a oportunidade. A maioria dos mentores trabalha voluntariamente, pelo prazer em ser útil e contribuir para o desenvolvimento de negócios que tornem o mundo melhor
2. Seja o pesquisador de um negócio inovador
Se você teve uma carreira muito técnica e participou de diversos projetos, esse currículo pode ser decisivo para empresas que estão captando recursos governamentais para projetos de inovação. Se você se associar a alguma empresa, principalmente de menor porte, seu conhecimento pode ter uma contribuição decisiva.
3. Seja voluntário em ONGs que "ajudam a pescar"
O ditado popular continua válido. Dar o peixe é importante, mas ajudar a pescar é ainda mais relevante. Há várias ONGs brasileiras que buscam a contribuição sustentável – caso da Junior Achievement, da Artemísia e da Endeavor. Mas sua contribuição não precisa estar, necessariamente, associada a uma ONG. Há outros bons projetos e inumeráveis problemas que demandam competências como as suas.
4. Crie sua empresa
Una sua paixão, conhecimento e rede de relacionamento em um negócio próprio. Estude, por exemplo, um pouco mais sobre a categoria de Micro Empreendedor Individual (MEI), na qual é possível abrir um negócio rapidamente, os impostos são fixos e a contabilidade é facilitada.
Mark Freedman explica que, quando entramos na nossa segunda metade da vida, percebemos que o tempo é finito e começamos a fazer outras perguntas. Nossas prioridades mudam, e podemos dispor de tempo e energia para fazer algo com uma nova perspectiva. Começamos a pensar em viver o nosso legado, o resultado da nossa existência.
Mas será que é preciso se aposentar para pensar em tudo isso?
**Escrito por Marcelo Nakagawa é professor de Empreendedorismo do Insper, membro do Conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor da Endeavor e autor de livros sobre empreendedorismo e inovação.
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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