Três mulheres empreendedoras receberam nesta terça-feira (25/02) o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, que homenageia fundadoras de empresas inovadoras, capazes de modificar a sociedade em que estão. Em sua décima edição, o evento, realizado em Brasília, teve a parceria da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e da Federação das Associações de Mulheres de Negócios Profissionais do Brasil.
Este ano, as vencedoras foram Rosângela de Melo, de Pontegi (RN), que recebeu o prêmio Pequenos Negócios, por ter desenvolvido uma máquina de baixo custo para produzir biscoitos; a capixaba Regina Célia de Oliveira, na categoria Micro Empreendedora Individual, que descobriu uma maneira de reaproveitar lixo inorgânico para produzir sabão; e Maria de Fátima Mota Barbosa, premiada como Produtora Rural por ter conseguido estimular a economia pesqueira de Sumé (PB), após criar uma técnica para retirar espinhas de uma espécie de peixe.
As ganhadoras dos principais prêmios são exemplos de como o perfil das empreendedoras do país mudou nos últimos dez anos. Antes, por exemplo, as principais dificuldades relatadas nas histórias das finalistas eram relacionadas aos maridos e à conquista de espaço para ter uma renda. “Isso é passado, a mulher está mais ousada, já tem espaço para empreender”, diz Jairo Martins, superintendente geral da FNQ, e um dos jurados do prêmio.
Além disso, afirma Martins, o resultado do prêmio comprova um dado apontado na última pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor), que mostra que as mulheres estão empreendendo mais por oportunidade do que por necessidade. “Elas estão mais bem preparadas, com uma capacidade maior de avaliar o cenário em que vivem e as mudanças que podem fazer”, diz. Segundo o levantamento, 66% das empreendedoras que começaram a empreender nos últimos três anos abriram uma empresa depois de identificar uma necessidade do mercado.
Para participar do prêmio, quase sete mil mulheres escreveram e enviaram suas histórias para o Sebrae – em 2003, quando foi realizada a primeira edição do prêmio, foram recebidas menos de mil inscrições. Esse número é a amostra também de outro dado do GEM, que diz que, hoje, as mulheres são maioria (52%) entre os fundadores de empresas com até três anos. “As mulheres começaram a ver o empreendedorismo como opção de carreira e não mais como um bico, apenas para complementar a renda", diz Luiz Barretto, presidente do Sebrae.
Da primeira etapa de seleção, feita em cada estado do país, saíram 66 trabalhos selecionados. Destes, nove foram escolhidos pelo júri para a fase final. Seis empreendedoras receberam os selos Mulher de Negócios de prata e bronze. Rosângela, Regina e Maria de Fátima receberam o selo de ouro. Saiba mais sobre os negócios criados por elas:
Rosângela de Melo, de Natal (RN)
Vencedora do Prêmio Pequenos Negócios
Foi depois de não ser aceita para um emprego em uma padaria que Rosângela de Melo, 45 anos, teve a ideia de montar um negócio. A potiguar percebeu que existia uma demanda muito grande por biscoitos feitos de polvilho na cidade em que mora, e imaginou que podia começar a fabricá-los.
Mas Rosângela não tinha dinheiro para comprar uma pingadeira, a máquina usada para fabricar os quitutes. Depois de pensar em diversas soluções, decidiu unir forças com um mecânico da região. A parceria deu mais do que certo. Juntos, os dois desenvolveram um aparelho de baixo custo que, além de não consumir energia elétrica, consegue produzir 40 tipos diferentes de biscoito.
Com sua invenção, Rosângela deixou o emprego na padaria e criou a Produtos Regionais. Hoje, a empresa vende mais de 60 mil biscoitos por mês. O diferencial, diz a empreendedora, é que os quitutes da marca têm um toque artesanal que os concorrentes fabricados em escala não têm. “Propositalmente, os biscoitos não têm um formato padrão – o que torna um diferente do outro e garante as características artesanais”, diz.
O plano do negócio para os próximos anos é conquistar todo o mercado do Rio Grande do Norte. Até agora, a Produtos Regionais já chegou a 40 municípios e a ideia é alcançar até 167. Como? Indo aonde ninguém mais vai. “Enquanto meus concorrentes estão brigando entre si pelo mercado da capital, estou trabalhando minha expansão para o interior com tecnologia de ponta”, diz a empreendedora.
Regina Célia de Oliveira, de Vila Velha (ES)
Vencedora do Prêmio Micro Empreendedora Individual
Para tentar economizar nas compras de supermercado, a dona de casa Regina Oliveira, 41 anos, decidiu começar a produzir seu próprio sabão. Ela já havia visto maneiras de fazer isso na internet e na televisão, mas seus planos eram um pouco diferentes. A ideia da capixaba de Vila Velha era reaproveitar lixo inorgânico, como garrafas PET e caixas de leite, na fórmula do produto. Depois de muitas tentativas e meses de trabalho, ela conseguiu criar um sabão potente – que também leva álcool em sua composição.
No começo, a ideia era usar o produto apenas em casa. Mas o sabão barato e ecologicamente correto foi ganhando fama no bairro de Olaria, onde Regina mora. Aos poucos, ela começou um comércio dentro de sua própria casa. Em 2010, decidiu que era hora de tornar o negócio formal e criou a marca Sabão Lele. Naquele mesmo ano, conseguiu faturar mais de R$ 3.500 em vendas.
De lá para cá, a receita da microempresa multiplicou, chegando a R$ 13 mil em 2013. Mas, segundo a empreendedora, os ganhos vão além dos números. “A principal vitória é minha empresa ser ecologicamente correta e incentivar a conscientização”, diz. Além de embalagens de papel e plástico, a Sabão Lele usa também resíduos de gordura saturada para produzir sabão. Quando o volume coletado excede o necessário, Regina direciona as sobras para uma companhia que usa a substância na fabricação de biodiesel. Em três anos, já foram gerados 1.360 litros do combustível com esse processo.
Para os próximos anos, a empresária planeja a construção de três estruturas: uma fábrica, um depósito para armazenar os resíduos e um espaço para oficinas de ensino – para espalhar a prática em toda a região. Ao contrário de muitos empreendedores que protegem a todo custo suas criações, Regina quer que sua técnica de fabricar sabão se espalhe Brasil afora. “Fico muito feliz quando as pessoas me ligam para dizer que estão produzindo e vendendo seu próprio sabão nos padrões da minha marca”, diz.
Fátima Mota Barbosa
Vencedora do Prêmio Produtora Rural
A ex-dona de casa Maria de Fátima Barbosa, 52 anos, nunca gostou de desperdício de comida. Por isso, quando viu que seus vizinhos na cidade de Sumé, na Paraíba, estavam alimentando porcos com um peixe perfeitamente adequado para o consumo humano, tratou logo de sair pela região para descobrir o porquê. Filha e mulher de pescadores, ela percebeu que as pessoas tinham muita dificuldade para retirar as espinhas da traíra – e que isso fazia com que desistissem de servi-la. Como a espécie é uma das mais populares na região, Maria de Fátima entendeu que se encontrasse uma maneira de resolver o problema teria um mercado em suas mãos.
Foi em sua própria casa que ela começou os experimentos. Ia tentando, do jeito que viesse à cabeça, retirar as espinhas. Depois, quando a técnica começou a evoluir, pediu ajuda à Universidade da Paraíba. Junto com a instituição de ensino, criou uma maneira certeira de tirar 95% dos ossos da traíra e passou a vender o peixe. A demanda pela espécie voltou a aparecer. Em pouco tempo, Maria de Fátima já tinha clientes como restaurantes, escolas e consumidores da região.
Para aumentar a produção, a empreendedora começou a organizar oficinas para ensinar a técnica que havia desenvolvido para outras mulheres. Os grupos de “alunas” já chegam a mais de 30 mulheres de Sumé e da cidade vizinha, Camalaú.
Os planos de Maria de Fátima não param por aí. A paraibana pretende, em breve, buscar o Sebrae para montar um plano de negócios e expandir a empresa. A ideia é investir na construção de um local próprio para o trabalho e também capacitar mais mulheres nas comunidades paraibanas. “É uma grande conquista ver que as mulheres estão se sentindo valorizadas por estar contribuindo com o sustento da família”, diz.
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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