O barulho do trânsito não soa mais como sinal do progresso, mas como um grave problema para o empreendedorismo brasileiro. A afirmação foi o tom do debate de abertura da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI 2014), realizada em Curitiba (PR).
O trânsito cansa a mente de qualquer profissional a caminho do trabalho, independentemente se ele está de transporte público ou de carro. Segundo José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, a fadiga faz o trabalhador se concentrar menos e, consequentemente, produzir abaixo do esperado. “Não é só o dono do negócio que perde. É o país como um todo”, diz.
O carro, outrora sinal de status e uma “ferramenta” necessária para o desenvolvimento de um país, diz Martins, pode ser considerado uma armadilha para o mundo atual. As metrópoles que insistirem em aumentar as avenidas, em vez de investir em um transporte público eficiente, matam a inovação e a abertura de novos negócios.
“É óbvio que os empresários querem vender para milhares de pessoas de uma capital. Contudo, é mais óbvio ainda que muitos empreendedores prefiram levar suas empresas para cidades mais calmas, onde o profissional pode ir a pé ou de bicicleta para o trabalho”, diz Martins.
As empresas adeptas das cidades pequenas não são as de serviços, mas as que vivem de inovação e alta produtividade. “Elas até adorariam ter prédios em grandes cidades, mas veem a falta de mobilidade como um problema real”, diz o reitor. “As metrópoles ainda não perceberam a enrascada que é o trânsito.”
Inspiração já existe
O Vale do Silício, nos Estados Unidos, é um exemplo para o mundo, afirma Rodrigo Rocha Loures, presidente do conselho do Instituto Brasileiro da Produtividade e Qualidade (IBPQ). A região, berço das inovações tecnológicas do momento e de grandes empresas pontocom, aposta em transporte público eficiente e ruas preparadas para bicicletas. Os profissionais podem ir até de skate ou patinete para o trabalho. “A locomoção não é uma aventura e nem tem o drama das grandes cidades brasileiras.”
Muitas metrópoles brasileiras buscam ter o próprio “Vale do Silício”. Mas, para ter uma região semelhante, muito mais do que discutir subsídios, incentivos e reduções de impostos, as cidades devem ter projetos de bem-estar social e um transporte público eficiente. “Os municípios que apostarem nessa estratégia têm mais chances de atrair empresas inovadoras e se tornarem bilionários”, diz Martins.
Mudança de cultura
Os debatedores concordam que a mudança não deve ser somente do poder público, mas de toda a sociedade.
Segundo Martin, o primeiro exemplo deve vir de casa: os pais devem estimular seus filhos a irem para a universidade de ônibus. “Nos países desenvolvidos, os estudantes não fazem questão de ter o carro quando fazem 18 anos. Temos que seguir esse exemplo”, diz Martins.
As pessoas também devem incentivar projetos de carona solidária na hora de ir ao trabalho. A iniciativa tira da rua até três carros de uma vez. “É difícil fazer uma ação assim, mas temos que ter essa cultura”, afirma o representante do IBPQ.
Os empreendedores, também vítimas do trânsito, devem colaborar. Como? Estimulando projetos de caronas e o uso do transporte público, principalmente entre os funcionários que têm acesso fácil a ônibus, trem e metrô.
A sociedade precisa se preparar. Se essas iniciativas nunca forem feitas, dizem Martins e Loure, os brasileiros sempre serão reféns do trânsito. E mais: jamais terão um país inovador.
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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