Nos últimos anos, sites de financiamento coletivo, conhecidos como crowdfunding, tornaram-se uma boa opção para empreendedores que querem transformar ideias em negócios. Funciona assim: o inventor posta uma ideia no site, diz quanto precisa e aguarda as contribuições.
Em troca, os apoiadores ganham brindes ou o produto quando ele é lançado. O caso mais famoso é o site americano Kickstarter, criado em 2009, que já captou mais de 1 bilhão de dólares para startups. Foi por meio dele que a também americana Pebble conseguiu 10,2 milhões de dólares para criar um relógio inteligente (com conexão à internet e aplicativos), lançado em 2013, que vendeu 300 000 unidades.
O sucesso do Kickstarter tem inspirado outras formas de financiamento coletivo, como o equity crowdfunding. Nele, o empreendedor dá uma participação acionária na empresa em troca de investimento. Um dos principais exemplos dessa nova modalidade é o Crowdcube, site criado há três anos na Inglaterra.
O serviço já distribuiu 80 milhões de reais a 105 empreendedores. O britânico Alex Kammerling foi um dos primeiros empreendedores a usar essa ferramenta. Há dois anos, ele lançou uma bebida alcoólica à base de ervas inspirada em seus anos de experiência como barman.
Antes, colocou o projeto no site Crowdcube e, em três meses, captou o equivalente a 700 000 reais para começar o negócio. “Se tivesse optado por um financiamento bancário, os juros teriam tornado a empreitada inviável”, afirma Kammerling. Hoje, sua empresa, batizada de Kamm & Sons, tem 150 sócios, que, juntos, detêm uma participação de 23%. “Além do dinheiro, ganhei um exército de promotores que me poupam gastos com marketing.”
Tradicionalmente, a lógica dos investimentos em startups segue a seguinte ordem. Os primeiros a aplicar numa empresa são os chamados investidores-anjo, geralmente empreendedores mais experientes e bem-sucedidos. No passo seguinte aparecem os fundos de capital de risco, com mais estrutura do que os anjos.
À medida que cresce, a startup começa a despertar o interesse de fundos de private equity, com maior poder de investimento. E, se tudo der certo, o último degrau é o lançamento de ações na bolsa. O surgimento agora do equity crowdfunding cria uma etapa anterior à dos investidores-anjo.
Foi com essa ideia em mente que os brasileiros Rafael Vasconcellos e João Falcão decidiram montar o site Eusócio, versão local do inglês Crowdcube. Mais de 1 300 pessoas já fizeram o download do edital para captar recursos pelo site, que deverá estrear para o público investidor em abril.
O Eusócio verifica as informações passadas pelos empreendedores e oferece aconselhamento. A palavra final, no entanto, é sempre do empreendedor. “O objetivo da ferramenta é facilitar a comunicação entre sócios e startups”, diz Vasconcellos. As condições da oferta de ações, como cláusulas de saída e pagamento de dividendos, variam de acordo com cada empresa. Se a startup não coloca esses termos de forma clara no site, não recebe o aval para captar recursos.
Para os investidores, aplicações em startups via sites de financiamento coletivo são consideradas de alto risco, já que as empresas não precisam seguir as regras rígidas das companhias de capital aberto. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem desde 2010 uma norma para investimentos desse tipo que limita as captações a 2,4 milhões de reais por ano.
“Temos discutido as ofertas de ações via crowdfunding e podemos, eventualmente, rever as regras”, diz Gustavo Gonzalez, chefe de gabinete da presidência da CVM. Ao contrário das corretoras, os sites de equity crowdfunding não revendem ações de quem quer sair do negócio.
Para ganhar dinheiro, o investidor depende do pagamento de dividendos, da venda da empresa por um valor maior do que o aplicado ou da abertura do capital. Ou seja, todas as apostas de longuíssimo prazo. Para os empreendedores, esse sistema também parece um casamento.
Se as coisas não derem certo como o planejado, será preciso estar preparado para lidar com a ansiedade de dezenas de sócios por um longo tempo. “Não faz sentido esperar um retorno em menos de cinco anos”, diz David Drake, diretor da corretora LDJ Capital, de Nova York.
Para ganhar fôlego logo no início
1 A startup cadastra-se num site de equity crowdfunding, informa quanto quer e o que fará com o dinheiro. O valor raramente ultrapassa 1 milhão de reais
2 O site checa se as informações estão corretas. Alguns oferecem aconselhamento na definição de valor de mercado da startup e calculam o percentual a ser vendido a sócios
3 No Brasil, o montante máximo captado não pode ultrapassar 2,4 milhões de reais por ano. O serviço de equity crowdfunding fica com uma comissão de até 10% dos aportes
4 Os investidores que desejam comprar participações nas startups fazem aportes que variam de 100 a 5 000 reais
5 Os investidores que desejam comprar participações nas startups fazem aportes que variam de 100 a 5 000 reais
Fonte: Exame
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