Aos 16 anos, o britânico Chris Arnold parecia estar fadado a se tornar mais um jovem problemático e sem perspectivas de sucesso para seu futuro. Ele não sabia ao certo como lidar com a dor da morte de 96 pessoas que foram pisoteadas, incluindo conhecidos, no Desastre de Hillsborough, um acidente causado por uma superlotação no Estádio Hillsborough, na Inglaterra. Após o acidente, Arnold se tornou relapso na escola e se envolveu com atividade ilícitas que poderiam ter arruinado sua vida.
O drama chamou a atenção de sua professora, Mary Wilson. Chocada pela depressão do menino, ela o chamou para ir ao seu escritório. E lá, pediu para ele montar um plano para sua vida. Nesse dia, Arnold decidiu que seu maior objetivo seria transformar o mundo em um lugar melhor. E ele está tentando.
Hoje, com 42 anos, ele é fundador do World Merit, uma rede social com mais de 80 mil usuários 15 mil apenas do Brasil. Ela funciona da seguinte forma: os participantes dessa comunidade propõem diversas ações para mudar o mudo. Para cada uma delas que um usuário participa, ele ganha pontos, e esses pontos dão acesso a programas patrocinados por empresas parceiras.
Arnold conversou com o site de Pequenas Empresas & Grandes Negócios durante o 27º Fórum da Liberdade, realizado em Porto Alegre, nos dias 7 e 8 de abril. Ele falou sobre a importância do impacto social em uma empresa, os planos para sua rede neste ano e sobre o que diria se pudesse escrever uma carta para sua versão de 16 anos.
Quais são os passos para começar a mudar o mundo?
O mais importante é ter espírito empreendedor. Eu não me importo muito se você empreende abrindo um novo negócio ou dentro de uma empresa existente, ou até mesmo como um professor que ensina aos jovens novas formas de pensar. O espírito empreendedor precisa ser colhido, aproveitado. Ou seja, o primeiro passo é dar oportunidade e mérito para as pessoas que descobrem esse espírito. Elas precisam ser postas em pedestais. A partir daí elas merecem apoio e acesso a bons mentores. O espírito empreendedor é o começo para a criação de grandes líderes.
Você acha que uma forma de tornar isso possível seria familiarizar jovens com o conceito de empreendedorismo desde cedo?
Sim! Isso é algo crucial. Quanto mais jovem melhor. E nessa parte de educação eu acredito que o mais importante não é nem o fato de você saber resolver equações matemáticas ou falar seis idiomas diferentes – apesar de isso ajudar em algum momento -, mas a parte de resolução de problemas. E isso é empreendedorismo e um componente essencial para ser um adulto de sucesso. Se você não está criando um espaço para isso, quer você chame de empreendedorismo ou resolução de problemas, você está falhando no seu sistema educacional. Outro aspecto sobre a necessidade de ensinarmos isso mais cedo para os jovens, é que eles têm mais ambição, eles pensam maior e mais positivamente sobre as coisas. E nós precisamos de pessoas que pensem dessa forma. Qualquer professor que diga para uma criança de seis anos que seu projeto é irrealista merece um soco na cara.
Os jovens precisam de tempo para sonhar...
Exatamente! E pode parecer clichê, mas muito do aprendizado que você ganha é errando por conta própria. Se você começa, desde cedo, a ter pessoas te podando, você nunca vai passar por esse processo, e quando pensar em tudo que poderia ter feito, já estará acomodado e preso a coisas como aluguel e família.
Qual a importância do impacto social para os negócios hoje em dia?
Acho que hoje em dia a questão é sobre ser uma empresa de longo prazo. Quando comecei, era uma questão de sobrevivência, de pagar minhas contas. Mas a geração de hoje precisa pensar na parte ética e social dos planos de negócios. E hoje em dia com a internet e redes sociais, é muito mais fácil descobrir se sua empresa está sendo antiética. Dessa forma ela perderá seus clientes e será esquecida. Muitas empresas faziam isso sem realmente acreditar nisso, como empresas que tinham estratégias sustentáveis apenas por modismo. Mas hoje muitos consumidores conseguem enxergar por esse tipo de falsidade. Portanto, se você acredita no bem que você faz, mais são as chances da sua empresa durar e faturar. Não seguir esse caminho significa que seu negócio é velho de datado e isso não funciona mais.
Quais são os planos para a rede Wold Merit para este ano?
Estamos trabalhando na parte técnica, para que cada vez mais usuários se sintam à vontade com o sistema. Nós criamos um novo modelo para que todos os projetos e avanços sejam criados pela própria comunidade do site. Neste ano também estamos oferecendo um programa de liderança para os usuários com duração de um ano, passando por uma série de mentorias na Inglaterra e Estados Unidos. Depois disso eles criarão um plano de vida, com diversos passos, para porem em prática durante os próximos anos. Nesse processo também queremos usar esse grupo de jovens para construir um plano de ação com soluções para um grande problema atual do mundo. Neste ano, escolhemos a desigualdade de gênero.
Sua vida começou a mudar quando você era um jovem de 16 anos. Se você pudesse escrever uma carta para o Chris daquela época, o que você diria para ele?
Eu diria duas coisas. A primeira seria uma dica de negócios: faça amigos. Pode parecer um clichê, mas nesse mundo, o mais importante são as pessoas que você conhece. No meu primeiro negócio, que era de nicho e eu conhecia todo mundo da área, eu tive muito sucesso. A partir do momento que quis fazer projetos mais amplos, eu percebi que não conhecia ninguém. Para construir o World Merit eu precisava conhecer pessoas de todo mundo.
E a segunda?
Parar de ser tão estúpido. Eu fiz coisas que se fosse pego eu não teria a oportunidade de estar aqui. Acho que ninguém sabe disso, nem minha mulher, mas uma vez fui pego por roubar de uma loja. O segurança poderia ter me levado para a polícia, mas ele decidiu me liberar. Se eu tivesse um histórico criminal eu não teria ido para frente, começado meu primeiro negócio ou tentado mudar o mundo como eu estou fazendo agora.
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
Voltar | Índice de Notícias |