Se comparada a todas as moedas existentes, o bitcoin possui uma série de qualidades: ela é global, não pertence a nenhum governo ou empresa e é rápida de ser transferida. Apesar das críticas sobre a segurança do seu sistema e sua volatilidade, a moeda virtual tem angariado entusiastas como Fernando Ulrich, diretor de Formação do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), que lançou neste mês o livro Bitcoin a Moeda na Era Digital.
O livro tenta desvendar as principais características e o potencial do bitcoin, assim como rebater críticas usando teorias monetárias de Carl Menger, Ludwig von Mises, F.A. Hayek e Murray Rothbard. O bitcoin foi lançado oficialmente em 2008 e funciona como dinheiro virtual transferido digitalmente em um sistema peer-to-peer. O seu valor é determinado pela oferta e procura do mercado e já está sendo adotado por diversos negócios pelo mundo, de pizzarias a clínicas de cirurgia plástica.
Ulrich conversou com Pequenas Empresas & Grandes Negócios sobre os principais pontos positivos e negativos da moeda e o que espera do futuro do bitcoin.
Como surgiu o interesse para escrever o livro?
Eu trabalhava em um blog no ano passado e um assunto que se tornou relevante foi uma alta abrupta no valor do bitcoin. Isso me chamou muito a atenção e resolvi estudar o tema. Fiquei fascinado, porque percebi que isso era mais que uma bolha ou uma brincadeira de nerds da computação. O bitcoin é uma nova rede de pagamentos revolucionária e sem precedentes.
Por que você acha isso?
O bitcoin pode melhorar o mundo e a economia de uma forma jamais vista. Ele é a primeira moeda privada viável como alternativa à moeda estatal. Isso representa a liberdade monetária.
Em que estágio estamos em termos de compreender e utilizar o bitcoin?
Ainda estamos no começo. Ele tem pouco mais de cinco anos de vida e só ganhou valor de mercado nos últimos três. Apenas em 2010 e 2011 ele começou a criar algum interesse. E agora ele passa a ser visto como mais que um meio para lavar dinheiro ou para comercializar mercadorias ilícitas, como foi propagado pela mídia inicialmente. Estamos em uma fase de transição de entendimento do bitcoin e o que ele pode oferecer. Ele mesmo tem muito a evoluir para conseguir escala.
De que forma ele pode contribuir para o desenvolvimento da sociedade?
O benefício imediato é a inclusão financeira, porque criar uma carteira virtual para usar o bitcoin demora apenas alguns minutos e, quando o faz, você entra em uma plataforma global de transações financeiras. Isso foge do sistema bancário tradicional, que é bem mais burocrático e excludente na hora de abrir uma conta. Por ser uma rede descentralizada e sem intermediários, o custo para fazer transações é mais baixo e rápido. Ela também é aberta, o que permite que os usuários inspecionem os processos, criando mais segurança. Claro que manter bitcoins é algo arriscado ainda, por causa da volatilidade da moeda, já que ela ainda é recente e sua liquidez muito baixa. Outro mercado em que o bitcoin pode ser fortalecer é no da remessa de dinheiro. O serviço de mandar dinheiro entre países é muito custoso, com taxas acima de 10%.
Você acha que o bitcoin sempre será livre ou a tendência é que pessoas, organizações e até mesmo países tentem controlá-lo?
Sim, a tendência é de regulamentação por parte dos governos. Mas o bitcoin ainda não chamou atenção suficiente para que isso acontecesse. Com mais tração, porém, esse é o destino natural. Mas por ser um sistema descentralizado, há um limite ao poder que os estados podem exercer sobre o bitcoin. Os governos não podem confiscar contas de usuários, por exemplo, ou inflacionar o valor ou proibir remessas. Uma área que eles podem atuar é impondo regulamentações nas empresas que transacionam ou facilitam o comércio dessa moeda, ou até coibir negócios de aceitá-la.
Que pontos deveriam ser pensados para que o bitcoin não sofra uma crise?
As empresas e programadores que estão envolvidos nesse projeto já estão tomando as medidas necessárias para aprimorar o sistema. É um processo de tentativa e erro, e cada novo evento determinante ajuda a moeda a se tornar mais resiliente. Acho que sem nenhum tipo de estímulo perverso, o mercado do bitcoin terá uma autorregulamentação.
Quais os pontos positivos do bitcoin para os empreendedores?
Neste momento, uma tendência muito forte é o surgimento de empresas que facilitem a aceitação do bitcoin como forma de pagamento. Elas funcionam como intermediárias para que o consumidor pague em bitcoin, mas o comerciante receba na sua moeda. Nesse sentido, o empreendedor se beneficia com taxas transacionais mais baixas que outros meios, como cartões de crédito. O repasse do valor das vendas também passa a ser mais rápido.
Há algum mercado ou tipo de empresa que se adaptaria mais facilmente ao sistema?
O comércio eletrônico é um exemplo óbvio de um mercado que se beneficiaria dessa moeda. O bitcoin foi feito para internet. O mercado de aplicativos também é uma grande oportunidade para esse novo sistema. Entra nessa lista também o mercado de micro-pagamentos, aquelas transações de valores muito baixos.
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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